1219 - QUANDO...
Quando alguém perguntar quem é você, diga o essencial: que você é uma consciência espiritual temporariamente radicada no plano físico.
Quando alguém perguntar se você acredita em vida após a morte, seja claro na resposta e diga que não acredita, mas que tem certeza! Porque isso não é questão de crença, é certeza íntima (e não é coisa da mente, é valor do coração).
Quando alguém cismar de mensurar o seu nível consciencial a partir da sua alimentação, da sua sexualidade, ou de suas opções de vida, esclareça bem que o seu caráter tem mais a ver com o que você pensa, sente e faz e que espiritualidade não é doutrina ou patrulhamento ideológico de algum nível sobre a conduta alheia, é estado de consciência. Diga, também, que quem perde tempo julgando o jeito de outro, deixa de prestar atenção em seus próprios defeitos e, por isso, acaba tropeçando na própria jornada. E afirme que só o Todo pode mensurar a verdadeira espiritualidade de alguém, pois só Ele conhece o que está realmente no coração do Ser.
Quando alguém perguntar sua nacionalidade ou raça, diga o certo: que você é um cidadão do universo, uma centelha vital do Todo.
Quando alguém perguntar o seu grau espiritual, diga o que um hierofante* diria: que você é um eterno neófito do Todo, sempre aprendendo...
Quando alguém perguntar se você ama, dê uma risada gostosa e diga que isso não se explica, só se sente...
Quando alguém perguntar se você é alguma espécie de mestre espiritual, ria mais ainda e diga que sequer é mestre de si mesmo, então, como poderia ser mestre de alguém?
Paz e Luz.
- Wagner Borges – mestre de nada e discípulo de coisa alguma.
São Paulo, 11 de outubro de 2012.
- Nota:
* Hierofante - dentro do contexto das iniciações esotéricas da antiguidade, era o mestre que testava os neófitos (calouros) nas provas iniciáticas.
Obs.: Deixo na sequência um texto que apresenta fortes correspondências com esses escritos de hoje.
VIVEKA* – O DISCERNIMENTO CONSCIENCIAL
Se eu citar Jesus e seus ensinamentos e, até pregar em seu nome, mas não respeitar a crença dos outros, tudo isso de nada adiantará.
Se eu admirar Krishna e cantar mantras e louvores ao divino, mas não tiver amor pela vida, então estarei perdido em mim mesmo.
Se eu meditar profundamente e falar dos ensinamentos dos rishis**, mas não vir o divino em tudo, nada serei realmente.
Se eu seguir os ensinamentos de Buda e, até pregar em nome do iluminado, mas não praticá-los nas lides da vida cotidiana, então tudo continuará em trevas dentro do meu coração.
Se eu falar dos ensinamentos dos mestres, ou dos mentores espirituais, mas não viver com alegria nem me apaixonar pelo Todo, com certeza terei perdido o tempo de vida e suas experiências.
Se eu falar de Shiva, mas não transformar o meu ego em servidor da Luz, de que adiantará?
Se eu falar dos santos, dos boddhisattvas***, dos avatares, ou mesmo dos anjos, mas ainda carregar violência em meu coração, tudo permanecerá estranho dentro de mim.
Se eu falar da Luz, mas carregar maldade em meus anseios e portar as faixas escuras do ódio no coração, então andarei em trevas.
Se eu falar da Mãe Divina e de sua doçura incondicional, mas projetar as farpas do egoísmo e da maledicência sobre os outros, estarei em miséria consciencial.
E se eu estudar os temas conscienciais, mas permanecer cheio de medo diante do invisível e ainda temer as provas do caminho, então só restarão as cinzas de minha ignorância diante do meu olhar de impotência.
Mas, se mesmo diante das dificuldades, eu assumir o comando de minha consciência e melhorar o que penso, o que sinto e o que faço, então serei eu mesmo melhorado.
E essa é a grande riqueza que alcançarei: eu mesmo melhorado!
Não é o que acredito que faz o que eu sou. É o que eu sou, realmente, que me faz como sou.
Por todo tempo, por onde eu for, seja com quem for, que seja eu mesmo, sempre melhorado, sempre aprendendo...
Maravilha das maravilhas, eu mesmo, sempre feliz.
P.S.:
De que adiantam as vitórias efêmeras no mundo, se, por dentro, na casa do coração, reina a desordem e a agitação?
De que adianta ter um corpo lindo, se a alma é pequena e cinzenta?
De que vale encher a cara de bebida, se, por dentro, tudo está ressecado e sem brilho?
De que adianta deitar com alguém na cama, se o coração não chama e o pensamento/sentimento voa para longe, para outro coração?
De que adianta ser arrogante por fora, se, por dentro, o medo de viver corrompe os melhores potenciais do ser?
De que adianta falar de Amor, sem amar realmente?
De que adianta “viver sem viver”, só se arrastando, sem outros horizontes?
De que adianta a um homem ganhar o mundo, se ele perder sua alma?
Paz e Luz.
- Wagner Borges – sujeito com qualidades e defeitos, mestre de coisa alguma e discípulo de coisa nenhuma, que sempre agradece ao Todo, por tudo.
São Paulo, 02 de maio de 2007.
- Notas:
* Viveka – do sânscrito – discernimento espiritual.
** Rishis – do sânscrito – sábios espirituais; mentores dos Upanishads.
*** Bodhisattvas - do sânscrito – são aqueles seres bondosos que estão perto de se tornarem Budas ou Iluminados. Para facilitar a explicação, podemos dizer que eles são canais espirituais ou avatares conscientes do amor de todos os Budas.
Texto <1219><28/11/2012>