1591 - O CÃOZINHO MARROM

1591 o caozinho marrom
 
 
 
O CÃOZINHO MARROM
 
- Por Antonio Cláudio Aragão de Souza -
 
Cheguei nesta segunda-feira, lá pelas 17 horas, na Vila São José...
Como de hábito, soltei no início da reta do bicão, entrei na Rua Lauro Sodré e parei na esquina da Rua 19. Comprei frutas no Hortifruti do “Velho”.
Saudei o Sr. Flávio Neca, entrei no bar do Sr. Osmar e o cumprimentei.
Perguntei como tinha sido o dia. Ele me disse que não tão bom, pois o cãozinho marrom fora atropelado e morrera.
Nunca soube seu nome e nem de onde viera... falava-se que pertencera a duas mulheres que se mudaram e o deixaram ali, nas esquinas da Rua 19 com Lauro Sodré.
Para vencer a solidão, o cãozinho marrom passava os dias correndo atrás dos carros em alta velocidade. Depois, língua para fora, voltava, e se socava embaixo das mesas onde ficávamos sentados.
Nesta segunda feira, o Sr. Osmar se esquecera dele embaixo de uma das mesas. E de manhã, quando abriu o bar, eis que o cãozinho marrom pulou para fora...
Lambeu os pés do Sr. Osmar, pulou em cima do “Velho” do Hortifruti, do Flávio Neca e do Sr. Antonio Careca, numa felicidade nunca vista.
Depois, avistou um automóvel vindo e danou a correr atrás dele, que, num movimento infeliz do motorista, o jogou debaixo de uma das rodas...
Entretanto, minutos depois, o cãozinho marrom acordou num imenso campo de flores. Ele avistou borboletas multicores que vinham em velocidade e passaram por ele...
Ele não pensou duas vezes.
Saiu correndo atrás delas.
 
- Nota de Wagner Borges:
Cláudio Aragão é meu amigo de infância, botafoguense e parceiro de futebol pelos campos da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, lá pelos idos das décadas de 1970/1980. Hoje ele é um dos poetas mais talentosos do país, com vários livros publicados.
Obs.: Ver outro texto dele nesse link: http://www.ippb.org.br/textos/365-poesia
 
 

Texto <1591><12/10/2017>

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