45 - DIÁLOGOS

Lahiri Mahasaya disse a seu mestre Babají:

- Senhor, deixe-me ficar aqui nos Himalaias praticando krya-yoga. Quero permanecer ao seu lado em constante samadhi.

Babají olhou firmemente nos olhos de seu discípulo e respondeu-lhe:

- Lahiri, a Luz não está nos Himalaias, está no centro do olho espiritual. Mergulhe na estrela prânica e entre na paz da consciência serena. Viaje pelas cordilheiras do amor em seu coração espiritual e leve minha mensagem aos homens de todas as raças. Diga-lhes que o amor divino não tem fronteiras, raça, sexo ou religião. A luz espiritual já brilha em cada ser, singelamente, convidando a todos ao descarte das emoções densas e ao aprimoramento das virtudes.

Meu filho, vá até os homens e ensine-os a arte de krya-yoga. Mostre-lhes o Himalaia da consciência esclarecida dentro deles mesmos. Leve até eles a certeza de que minha presença não depende de fenômenos físicos ou psíquicos. Surgirei dentro do olho espiritual das pessoas sintonizadas à divina compaixão. Protegerei os trabalhadores espirituais dedicados e simples de coração em qualquer hora ou plano de manifestação. Meu Himalaia espiritual está no centro das consciências que trabalham a favor do progresso da humanidade.

Querido, viva entre os homens e cumpra sua missão. Estaremos sempre juntos, no olho espiritual.

* * *

Certa vez, Ananda perguntou a Sidarta Gautama, o Buda:

- Mestre, como atingir o nirvana?

O Iluminado olhou-o com ternura e disse-lhe:

- Abaixo da iluminação, tudo é dor e miséria consciencial. Medite na suave compaixão que permeia a vida de todos os seres sencientes no universo fenomênico. Disseque seu ego e perceba a verdade: a luz do nirvana é a luz do coração!

Vá bem fundo, Ananda e descerre os véus da ilusão. Descubra o Sol da compaixão e ilumine-se com o brilho da paz íntima. O nirvana é um oceano de serenidade. É pura plenitude suave.

Seja sereno e terno, meu bom amigo. Viva com retidão de princípios e seja paz em ação. O nirvana está dentro de você.

* * *

Arjuna, o discípulo-arqueiro de Krishna, estava triste pois vários amigos haviam tombado na recente guerra dos Bharatas. Acercou-se de seu mestre e disse-lhe:

- Meu doce Senhor, a tristeza está me consumindo e a força vital escapa de meu corpo. É chegada minha hora final?

Krishna olhou-o com ternura. De seus olhos de lótus emanava suave luz azul. A seguir, disse-lhe:

- Narananda, a alma não nasce e nem morre, apenas entra e sai de corpos perecíveis. É eterna e imutável. Não pode ser ferida ou fenecer. Como poderia morrer se é parte integrante do Eterno? Alegre-se, meu amado. Cada alma é potencialmente divina. Seus amigos não morreram, apenas foram deslocados para níveis de vida mais sutis. Estão vivos e ativos nas dimensões do infinito. Quanto a você, não é chegada sua hora final, nem agora, nem depois, pois é impossível o fim do Eterno.

Reaja, amigo! Rompa o crisol da tristeza. Há muito trabalho a fazer e sua tarefa mal começou. Ao longo dos milênios, você viajará pelo mundo em corpos e nações diferentes, levando acesa a tocha da espiritualidade consciente. Essa é sua principal batalha: transmitir aos homens a certeza da imortalidade.

Alegre-se, arqueiro da Luz! A alma é imperecível. É pura luz eterna. Venha, vamos entrar em um samadhi e beijar o infinito. Tudo é Luz!

* * *

Sukadeva perguntou a seu pai, o sábio Vyasa:

- Senhor, como posso acessar os níveis da consciência cósmica e comungar com as verdades transcendentais?

O sábio ficou em silêncio por um tempo. Quando falou, seus olhos brilhavam sintonizados no Sol do samadhi. Disse ele:

- As verdades espirituais estão dentro do bosque secreto do coração. Entre nele e passeie por entre as árvores da sabedoria. Observe a vegetação luxuriante das emoções e a placidez das flores. Com suavidade, aprofunde-se mais e vá até o parque dos devas. Brinque e cante com eles a canção do samadhi. Deslize pacificamente pelas linhas da consciência cósmica. Viaje pelas dimensões sutis e integre-se ao esplendor das consciências lúcidas e livres das peias do ego. Vôe com os devas e banhe-se na luz-amor de Brahman.

Abrace o Universo com o pensamento puro e torne-se veículo de celestes numes para os sofredores de todos os lugares.

Filho querido, lembre-se de que seu coração é um portal de amor. Viaje pelo bosque secreto e seja feliz. Que Brahman o conduza.

* * *

Os mestres não estão em algum lugar especial.

Eles estão na consciência cósmica, além das luzes do mundo.

Sua ação é sutil e transformadora.

Trabalham em silêncio na sintonia da paz imperecível.

Operam além dos modismos temporários tão em voga nos dias atuais. Não compactuam com leviandades místicas.

Além do turbilhão emocional dos homens estão os mestres.

Eles são a expressão do trabalho e do amor.

- Wagner Borges -
/*



Texto <45><27/08/1998>

Imprimir