MINHA PRIMEIRA PROJEÇÃO ASTRAL CONSCIENTE

- por Sylvan J. Muldoon -

Tendo bem em mente que a parte astral é real, é a própria vida, e que o físico não passa de uma espécie de cápsula, voltaremos agora a nossa atenção para o que então ocorre quando se dá a projeção astral. Descreverei a primeira projeção consciente por mim realizada. Sabeis, porém, que nem todas as experiências são semelhantes e que se, segundo as leis da arte que serão dadas adiante, vós conseguirdes projetar-vos, aquilo que ireis encontrar não coincidirá, sob todos os pontos, com aquilo que tenho dito, e a proficiência só será adquirida pela prática.

 

Tinha eu então doze anos; pensava pouco nos problemas da vida e cuidava menos ainda deles. Posto que na família alguns tivessem estudado bastante os assuntos ocultos, eu não sabia quase nada relativamente a uma vida mais elevada. Na verdade eu tinha ouvido que nós vivemos após a morte, de certo modo como atualmente. Eis tudo quanto eu sabia a respeito disso, além de que não era assunto para mim.

Lendo livros sobre o Espiritismo, minha mãe, levada mais pela curiosidade e pelo desejo de saber se aquilo era verdade ou ficção, decidiu visitar o campo da Associação dos Espíritas do Vale do Mississípi, em Clinton, Iowa. Eu a acompanhei com meu irmão menor e o fato que agora vou relatar aconteceu ali.

Nós nos recolhemos cedo, ao cair da noite, numa casa onde por coincidência estavam hospedados uns seis médiuns largamente conhecidos. Comecei a cochilar mais ou menos às dez e meia, do mesmo modo por que sempre o fazia, e dormi algumas horas. Por fim verifiquei que estava despertando lentamente, posto não parecesse estar cochilando nem acordado. Numa terrível perturbação verifiquei (dentro de mim) que eu existia algures, de certo modo, numa situação de impotência, de silêncio, de escuridão e de insensibilidade.

Mas ainda tinha consciência - de uma desagradabilíssima contemplação do ser!

Repito: eu tinha certeza de que existia, mas parece que não compreendia onde.

Minha memória não me dizia. Era uma estupefação semelhante à que a gente experimenta quando se livra da ação de um anestésico. Eu pensava estar despertando de um sono natural, de maneira natural, embora não pudesse prosseguir. Havia apenas um pensamento dominando a minha mente: Onde estava? Onde estava?

Gradativamente - parecia uma eternidade, embora fosse um pequeno intervalo - tomei-me mais consciente do fato de estar estirado nalgum lugar. Esses poucos pensamentos meio confusos trouxeram pensamentos relativos e em breve pareceu-me estar reclinado sobre o leito, mas ainda incerto quanto à minha localização. Procurei mover-me, determinar a situação, mas apenas verifiquei que me achava sem forças - como que pregado àquilo sobre que repousava. Pregado é a verdadeira sensação. Quando consciente no começo da exteriorização, a gente se sente grudada, fixada, imobilizada.

Um fato peculiar a esse estado é que a gente pode estar consciente, embora incapaz de movimento. A essa condição dei o nome de catalepsia astral, desde que ainda não existe um vocábulo para a caracterizar. A catalepsia astral será estudada adiante, com mais pormenores. Basta dizer agora que a catalepsia astral tanto pode ocorrer com o funcionamento dos sentidos, quanto sem ele, tanto com plena consciência, quanto sem ela. A catalepsia astral é o controle subconsciente direto.

Eventualmente a sensação de aderência desapareceu, mas foi substituída por outra sensação, igualmente desagradável - a de flutuar. Ocorrendo ao mesmo tempo em que o corpo estava rígido - eu pensava que era o meu físico, quando era o astral - comecei a vibrar numa grande freqüência, no sentido ascendente-descendente e sentia uma tremenda pressão exercida na parte posterior da cabeça, na região da medula oblongada. Essa pressão era muito impressionante e começou em impulsos regulares, cuja força parecia fazer pulsar meu corpo inteiro. Tudo isto se me afigurava um pesadelo fantástico numa escuridão total - exatamente porque eu não sabia o que se passava. No meio desse pandemônio de sensações bizarras - flutuação, vibração, ziguezagues e pressão na cabeça - comecei a ouvir uns sons aparentemente familiares e muito distantes. A sensação de ouvir começava. Tentei mover-me, mas ainda não podia - era como se eu fosse presa de alguma força dirigente ultra-poderosa.

Nem bem começou a sensação de ouvir quando se seguiu a de ver. Quando fui capaz de ver, fiquei mais que admirado! As palavras não podem exprimir a minha admiração. Eu estava flutuando! Flutuava no ar, em posição bem horizontal, a poucos pés acima da cama. O quarto, minha exata localização, foram então percebidos. A princípio as coisas pareciam sombrias, mas depois tornaram-se claras. Certifiquei-me bem onde estava, embora não pudesse explicar minha estranha atitude. Lentamente, ainda zigue-zagueando e com grande pressão na parte posterior da cabeça, eu me movia em direção ao teto, sempre em posição horizontal e sem forças.

Naturalmente eu pensava que aquilo fosse o meu corpo físico, como sempre o havia conhecido, mas que misteriosamente ele tivesse desafiado a lei da gravidade. Era muito fora do natural para que eu o compreendesse, mas muito real para que o negasse - pois, estando consciente, sendo capaz de ver, eu não podia duvidar de minha sanidade. Involuntariamente, a cerca de seis pés da cama, como se o movimento tivesse sido dirigido por uma força presente, mas invisível, fui mudado da posição horizontal para a vertical e posto de pé no soalho. Aí fiquei, segundo me pareceu cerca de dois minutos, ainda sem forças para me mover por mim mesmo e olhando para a frente. Eu ainda me achava em catalepsia astral.

Então a força controladora cedeu. Senti-me livre, percebendo apenas a tensão na parte posterior da cabeça. Dei um passo, quando a pressão aumentou um pouco. Procurei fazer uma volta. Havia um outro "eu" deitado calmamente, na cama! Comecei a pensar que estava louco. Era difícil convencer-me de que aquilo era real; mas a minha consciência não permitia dúvidas do que via. Meus dois corpos idênticos estavam ligados por meio de uma espécie de cordão elástico, uma ponta do qual ligada à região da medula oblongada da parte astral, enquanto a outra ficava entre os olhos do corpo físico. Esse cordão se estendia pelo espaço de cerca de seis pés que nos separavam. Durante todo esse tempo eu tinha dificuldade de manter o equilíbrio, pois balançava para um lado e para o outro.

Ignorante da verdadeira situação, meu primeiro pensamento, ao ver tal espetáculo, foi que tinha morrido durante o sono. Até então, não havia aprendido que a morte se dá com a ruptura daquele cordão elástico. Caminhei, lutando com o empuxo magnético do cordão; caminhei em direção aos seres terrenos de meu sangue que dormiam no outro quarto, na esperança de os despertar e lhes dar a conhecer essa horrorosa situação. Tentei abrir a porta, mas me vi passar através dela. Outro milagre para minha mente já admirada! Passando de um quarto a outro, procurei ardorosamente despertar as pessoas que dormiam na casa. Peguei-as, chamei-as, tentei sacudi-las, mas minhas mãos passavam através delas como se fossem vapores. Comecei a gritar. Queria que me vissem, mas nem sentiam a minha presença. Todos os meus sentidos pareciam normais, salvo o do tato. Eu não podia estabelecer um contato material com as coisas, como dantes. Um automóvel passou perto da casa: pude vê-lo e ouvi-lo perfeitamente. Depois de algum tempo o relógio bateu duas horas e, olhando, vi que o mostrador marcava aquela hora.

Comecei a rondar no lugar, cheio de ansiedade para que a manhã chegasse, e as pessoas acordassem e me vissem. Se bem me recordo, rondei durante uns quinze minutos pelos quartos quando percebi um pronunciado aumento na resistência do cabo. Estava puxando com esforço cada vez maior. Comecei a ziguezaguear para trás, para o meu corpo físico. Novamente me achei sem forças para me mover.

Estava cataléptico e retomando a posição horizontal, diretamente por cima da cama. Deu-se o processo inverso do que eu experimentara ao me erguer da cama.

Lentamente o fantasma baixou, vibrando novamente, para cair de súbito, coincidindo com o corpo físico mais uma vez. Nesse momento de coincidência cada músculo do corpo físico se abalou e uma dor penetrante, como se eu tivesse sido fundido da cabeça aos pés, percorreu o meu corpo. Eu estava novamente vivo no corpo, cheio de medo, tão admirado quanto apavorado. Mas tinha estado consciente durante toda a ocorrência.

(Trecho extraído do livro "Projeção do Corpo Astral" de Sylvan J. Muldoon e Hereward Carrington; Editora Pensamento)

- Comentários de Wagner Borges:

Muitas pessoas tem enviado e-mails e cartas narrando sensações de catalepsia (paralisia durante o sono) e outros sintomas projetivos.

A maioria escreve apavorada, pois não lida bem com o fenômeno, espontâneo e sem hora marcada para acontecer. Por isso, estamos reproduzindo esse trecho do livro de Sylvan J. Muldoon e Hereward Carrington, "Projeção do Corpo Astral", onde está o relato da primeira projeção consciente de Muldoon.

Esse texto já foi enviado no mês de março de 1999, mas como texto avulso. Por isso, muitas pessoas que se cadastraram no site depois dessa data não leram este importante relato.

A "Projeção do Corpo Astral" é um clássico do tema das projeções da consciência. Sua primeira edição foi lançada em 1929 nos EUA.

Aqui no Brasil, desde a década de 1960 a Editora Pensamento vem relançando essa obra.

Muito embora o estilo do autor seja a moda antiga, as descrições dos fenômenos projetivos são exatas. Principalmente na parte em que ele descreve as catalepsias (1) e o cordão de prata com detalhes.

A maioria das experiências fora do corpo de Sylvan J. Muldoon (1903-1971) ocorreram numa época em que ele esteve doente por um bom tempo. Aproveitando-se da fraqueza do corpo e do fenômeno projetivo que ocorria espontaneamente com ele, Muldoon conseguiu observar com detalhes vários aspectos das projeções da consciência e seus mecanismos.

Na década de 1920 ele leu os livros de Hereward Carrington (1880-1958), na época uma das grandes autoridades em Ioga e pesquisas parapsíquicas nos EUA. Impressionou-se com os capítulos sobre as experiências fora do corpo que Carrington havia inserido nos livros, (2) e enviou-lhe uma carta contando de suas próprias experiências. Imediatamente Carrington viu que o rapaz tratava-se de um genuíno projetor consciente.

Então, estimulou-o a escrever os seus relatos projetivos e suas observações técnicas sobre o fenômeno.

Para dar um clima mais técnico ao livro, Carrington fez uma excelente introdução explicando diversos aspectos das projeções e citando relatos projetivos de sua época, notadamente os de Oliver Fox (pseudônimo de Hugh Callaway, 1886-1949), projetor inglês que realizava projeções concentrando-se na glândula pineal (3) e nas incongruências dos sonhos. Daí surgiu o excelente livro "Projeção do Corpo Astral", parceria de um pesquisador e um projetor, hoje uma obra clássica do tema. (4)

- Nota:
1. Para maiores detalhes sobre a catalepsia projetiva, estou reproduzindo logo abaixo um trecho extraído do meu livro "Viagem Espiritual II" (Editora Universalista): "Ocasionalmente , o projetor pode sentir uma paralisia de seus veículos de manifestação, principalmente dentro da faixa de atividade do cordão de prata. Essa paralisia é chamada de "catalepsia projetiva ou astral". Não deve ser confundida com a catalepsia patológica, que é uma doença rara. A catalepsia projetiva pode ocorrer tanto antes como após a projeção. Geralmente, ela acontece da seguinte maneira: a pessoa desperta durante a noite e descobre que não pode se mover. Parece que uma força invisível lhe tolhe os movimentos. Desesperada, ela tenta gritar, mas não consegue. Tenta abrir os olhos, mas também não obtém resultado. Alguns criam fantasias subconscientes imaginando que um espírito lhes dominou e tolheu seus movimentos. Geralmente, esse fenômeno dura apenas alguns instantes, mas para a pessoa parece que decorreram horas de agonia.
Por incrível que pareça, essa catalepsia é benigna e pode produzir a projeção, se a pessoa ficar calma e pensar em flutuar acima do corpo físico. A essa altura, o leitor que alguma vez tenha sofrido essa experiência, deve estar pensando que essa técnica de saída do corpo é bastante perigosa. Entretanto, ela não apresenta nenhum risco, pelo contrário, é totalmente inofensiva. É um fenômeno que acontece com muitas pessoas, todas as noites, em todo o planeta. Se o leitor questionar as pessoas de seu círculo familiar e de amizades, constatará que muitas delas já passaram por esse tipo de experiência algum dia. Portanto, se o leitor se encontrar nessa situação em uma noite qualquer, não tente se mover. Fique calmo e pense firmemente em sair do corpo e flutuar acima dele. Não tenha medo nem ansiedade e a projeção se realizará. Caso o leitor não pretenda se arriscar e deseje recuperar o controle de seu corpo físico, basta tentar, com muita calma, mover um dedo da mão ou uma pálpebra que, imediatamente, irá readquirir o movimento. Entretanto, se a catalepsia projetiva ocorrer, não desperdice a oportunidade e procure sair do corpo."

2. Os dois livros de Hereward Carrington são "Higher Psychical Development" e "Your Psychic Powers and How To Development Them".

3. A glândula pineal (também chamada de epífise) é uma glândula endócrina situada logo abaixo dos dois hemisférios cerebrais, bem no centro do crânio. Funciona em estreita ligação com o chacra da coroa (chacra coronário, no meio do alto da cabeça) e parece ter estreita relação com diversos fenômenos de expansão da consciência, experiências fora do corpo e sensações bioenergéticas na cabeça.

4. Sylvan Joseph Muldoon lançou uma obra solo em 1936 chamada "The Case For Astral Projection". Anos depois, em 1951, ele se juntaria novamente a Hereward Hubert Levington Carrington para lançar um novo livro chamado "The Phenomena of Astral Projection" (diga-se de passagem, um livro excelente). Esses dois livros nunca foram traduzidos para o português. Quem sabe a Editora Pensamento não lança essa sequência aqui no Brasil?

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