A VIAGEM DE UM ESPIRITUALISTA - por Adriana Shimabukuro

- Por Adriana Shimabukuro -

Eu estava de partida.
Há anos eu me preparava para aquela viagem.
Aprendi a me poupar, planejar e encontrar o caminho...

"Leve somente o necessário", disseram-me.
Olhei em volta e escolhi com carinho o que levaria em minha nova jornada.
"Um livro, um álbum de fotografias e uma flor", pensei orgulhosamente.
 
No livro, levaria o conhecimento que adquiri naquela vida.
No álbum, guardaria todas as minhas vivências e minhas lembranças.

A flor seria o perfume da minha antiga casa, nela teria gravado todas as belezas que pude conhecer nesta minha viagem que agora findava.
Durante anos eu aprendi e me preparei para viajar de volta a minha casa.

Neste dias aprendi a reconhecer os verdadeiros amigos, a brindar a vida e a distribuir alegria por onde passei.
Naqueles anos e naqueles livros, entendi um pouco do que era a vida, uma pequena viagem ao mundo do conhecimento.

Naquele Planeta Azul e naquelas belas músicas, aprendi a amar e entender um pouco das pessoas.
Mas agora eu estava de partida.

Um misto de ansiedade e alegria me tomou.
Achava-me bastante preparado, afinal sabia que pouco eu poderia levar comigo além daquela pequena trouxa na qual eu guardava meus três objetos.

Deixaria meus diplomas, meus títulos, meus patrimônios, minhas conquistas e meus amigos.
Agora eu estava de partida.
"Esqueci de algo?"

Aquela velha e maravilhosa sensação, tão familiar começava a me envolver.
Durante os últimos anos aprendi a livrar-me da carcaça terrestre, aprendi a voar e visitar minha velha casa.
Mas todas as vezes tive que voltar, preso por aquele cordão * que me lembrava das tarefas ainda não findas no Planeta Azul.

Um leve arrepio corria minha espinha, o calor me tomava como braços que acolhem uma criança no meio da noite escura. Aos poucos sentia-me leve e
flutuava pelo quarto novamente.
Aquela luz novamente iluminava meu caminho, mas desta vez sem volta.

Senti-me mais leve que todas as outras vezes, vi meu corpo deitado na cama.
"Como eu poderia ser somente aquilo?"
Subia... subia... subia...
"NÃO... NÃO... esqueci meus objetos, esqueci meu livro, meu álbum e minha flor.
Não posso deixar o que aprendi nestes anos!!"

Lágrimas rolavam e eu olhava para minha casa que ficava cada vez mais pequena e guardaria meus pequenos objetos, minha bagagem espiritual.
Como poderia partir sem eles e deixar para trás o que escolhi com tanto carinho para guardar meus grandes aprendizados e minhas belas recordações.

Subia... subia... subia... triste, com saudades do que havia perdido.
Via minha mãe orando por mim, via aquelas tardes do colégio, quando ia jogar bola com meus amigos. Lembrei-me daquela tarde no parque quando roubei uma flor para a Gabriela, minha primeira namorada; vi as estrelas e vi o pôr-do-sol.
Subia... subia... subia...

Conheci as belezas daquele planeta que pouco explorei, vi destruições, vi amantes da flora e guardiões dos animais. Toquei o mar e sorri com as crianças do jardim. Senti o perfume do mundo e pintei-me com as cores do arco-íris.
Subia... subia... subia...

Vi histórias desenroladas em minha mente, aprendi com mestres e com pequenas crianças que ensinam a sorrir e a serem puras; aprendi que todo o conhecimento do mundo não substitui o prazer de ser útil, aprendi que amar é mais importante do que saber o que é o amor.

Não esqueci minha bagagem em minha casa.
Eu a trazia dentro de mim mesmo, muito mais viva e interessante do que aquela que eu retratava em meu álbum ou naquele livro. Dentro de mim eu tinha todas as belezas do mundo que eu não podia representar naquela flor.
Dentro de mim havia sentimentos e amor.
Subia... subia... subia...

Eu tinha levado somente o necessário.
 

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