O SÁBIO DA MONTANHA - por Sumaia Elias Abrão
- Por Sumaia Elias Abrão -
Há muito tempo, existiu um sábio que morava no alto de uma montanha, perto de uma pequena cidade, que parecia viver em harmonia.
Um dia, o sábio interrompeu seus afazeres e foi dar uma olhada num turbulento vozerio que ecoava da cidade. Chegando lá, dirigiu-se à praça central de onde pareciam vir os gritos.
Calmamente, ele começou a passar pelo meio da multidão, subiu os três degraus que davam acesso a um pequeno palco, onde a figura de um homem entristecido padecia.
A multidão berrava:
- Enforquem-no!
Sem dizer uma palavra, o sábio fez um gesto com a mão, pedindo silêncio e perguntou:
- O que esse pobre homem fez para ter tão doloroso fim?
O juiz da cidade respondeu:
- Faz um ano que estávamos à procura desse ladrão de galinhas que, além de roubá-las, ainda surrupiava os ovos, sem os quais não poderíamos dispor de novas aves.
O sábio meditou a respeito e perguntou:
- O que é mais útil, um cavalo morto, ou um cavalo vivo?
E a multidão respondeu:
- Um cavalo vivo!
- Então, disse o sábio, deixem esse homem viver, e que ele seja condenado a dois anos de trabalhos comunitários, criando galinhas, pois não existe cárcere maior do que a própria consciência e não existe liberdade sem trabalho honesto. O perdão virá apenas com o pagamento das dívidas que foram adquiridas pelos atos impensados.
O sábio partiu para o alto da montanha, onde retornou para suas tarefas.
Tempos mais tarde, novo alarido vindo da cidade chamou a atenção do sábio, que novamente desceu a montanha.
- Blasfêmia, blasfêmia! Gritavam esbaforidos os religiosos fervorosos.
- O que fez esse homem? - perguntou o sábio.
- Ele insultou o nosso Deus, responderam todos.
- Como ele fez isso?
- Esse forasteiro disse que a imagem de Deus adorada por nós não significava nada para ele, e que a sua visão de Deus era totalmente diferente.
O sábio mais uma vez meditou e disse:
- Nobre fiel, corra até sua casa e me traga um quadro de algum parente distante seu. E você também, reverendo.
Quando eles voltaram com os quadros, o sábio deu o quadro do reverendo para o fiel e o do fiel para o reverendo, e os interrogou:
- Esses quadros significam algo para vocês?
E os dois foram unânimes ao responder:
- Não!
- Vocês estão ofendidos por isso? - o sábio interrogou novamente.
- É evidente que não, responderam.
- Se nem vocês ficaram ofendidos, como esperam que o nosso bondoso Deus o fique? Cada povo de cidades longínquas tem os seus costumes, crenças e necessidades. O Sol nasce para todos e, mesmo que todos nós soubéssemos pintar, com certeza seria impossível que pintássemos dois quadros exatamente iguais do nascer do Sol.
Proferidas essas palavras, o sábio se foi, e desculpas mútuas foram pedidas entre povo e forasteiro.
Um espaço razoável de tempo se passou, até que novo burburinho na cidade fez o sábio descer mais uma vez, levando seus luminosos raios do saber para a multidão, que tantas vezes se deixava obscurecer por ninharias.
- Isso é guerra! Metade da população gritava.
- Isso é guerra! A outra metade respondia.
- Do que se trata, perguntou gentilmente o sábio.
- Querido sábio, sua figura santa sabe que o trabalho comunitário de plantio é a base de nossa alimentação e sobrevivência. Estamos sendo assolados por forte seca, e corremos o risco de ficar sem alimentos. Por isso muitos de nós optamos por canalizar as águas do rio para irrigar a nossa plantação. Mas os outros acham que se canalizarmos a água, Deus pode nos castigar pela falta de fé que Ele nos mandará as chuvas e pode secar também as águas do rio. Chegamos à conclusão, já que nenhuma das partes quer ceder, que só uma guerra resolverá o nosso problema, para que possamos salvar o nosso plantio e nossas vidas.
O sábio, em tom alto e claro disse:
- Se apenas irrigar plantações com as águas dos rios resolvesse o problema das secas, não haveria desertos no mundo. Por outro lado, só a fé sem o esforço contínuo faz com que a vida se torne estéril como os áridos desertos.
Cidadãos, o plantio da guerra resulta na colheita da morte, mas o plantio da paz enche os reservatórios da alma de vida.
Mais uma vez o sábio se retirou para o alto da montanha e, para seu contentamento, pode respirar a morna brisa da união que subia da pequena cidade apaziguada.
Muito tempo se passou, e o sábio findou sua estadia no alto da montanha, partindo para as longínquas terras astrais, onde foi recebido calorosamente por tantos outros sábios que sempre velaram por sua vida.
A pequena cidade sentiu muito quando ele partiu, e a única coisa que lhes servia de consolo eram as últimas palavras do velho ancião, que lhes disse:
- Não se preocupem, meus amigos. Quando a urgência lhes assomar o coração, façam uma prece sincera, que, com certeza, Deus abrirá um caminho, e farei questão de indicá-lo a vocês.
Muitas urgências aconteceram, muitas preces foram feitas, muitos caminhos foram abertos e, em todas as vezes, o sábio estava lá para indicá-lo, como havia prometido.
Muitas vezes, o caminho certo foi tomado; outras vezes, não.
O tempo ininterruptamente foi passando e, apesar de muitas trilhas incertas e atalhos que acabavam em precipícios, para a alegria do sábio, todos os moradores da pequena cidade conseguiram um dia subir ao alto da montanha, e de lá cada um deles podia olhar para uma pequena cidade; e, de vez em quando, desciam lá alegremente, para levar uma sementinha de luz, colhida numa árvore que só dá bons frutos e lindas flores, e que acolhe todos os seres em seus infinitos galhos, chamada Deus.
- Nota de Wagner Borges: Sumaya é nossa amiga há muitos anos. É a professora de Ioga do IPPB há oito anos. É participante do grupo de estudos e assistência espiritual. É pesquisadora das experiências fora do corpo, dos chacras, e do uso dos cristais para cura e limpeza energética. Para mais informações sobre o seu trabalho, favor ver os seus textos e exercícios na coluna de Ioga da revista on line do site do IPPB – www.ippb.org.br
Obs.: Ela ministra aulas de Ioga no IPPB em diversos horários ao longo da semana. Inclusive, os interessados podem participar de uma primeira aula gratuita, para conhecer “in loco” o seu trabalho.
Há muito tempo, existiu um sábio que morava no alto de uma montanha, perto de uma pequena cidade, que parecia viver em harmonia.
Um dia, o sábio interrompeu seus afazeres e foi dar uma olhada num turbulento vozerio que ecoava da cidade. Chegando lá, dirigiu-se à praça central de onde pareciam vir os gritos.
Calmamente, ele começou a passar pelo meio da multidão, subiu os três degraus que davam acesso a um pequeno palco, onde a figura de um homem entristecido padecia.
A multidão berrava:
- Enforquem-no!
Sem dizer uma palavra, o sábio fez um gesto com a mão, pedindo silêncio e perguntou:
- O que esse pobre homem fez para ter tão doloroso fim?
O juiz da cidade respondeu:
- Faz um ano que estávamos à procura desse ladrão de galinhas que, além de roubá-las, ainda surrupiava os ovos, sem os quais não poderíamos dispor de novas aves.
O sábio meditou a respeito e perguntou:
- O que é mais útil, um cavalo morto, ou um cavalo vivo?
E a multidão respondeu:
- Um cavalo vivo!
- Então, disse o sábio, deixem esse homem viver, e que ele seja condenado a dois anos de trabalhos comunitários, criando galinhas, pois não existe cárcere maior do que a própria consciência e não existe liberdade sem trabalho honesto. O perdão virá apenas com o pagamento das dívidas que foram adquiridas pelos atos impensados.
O sábio partiu para o alto da montanha, onde retornou para suas tarefas.
Tempos mais tarde, novo alarido vindo da cidade chamou a atenção do sábio, que novamente desceu a montanha.
- Blasfêmia, blasfêmia! Gritavam esbaforidos os religiosos fervorosos.
- O que fez esse homem? - perguntou o sábio.
- Ele insultou o nosso Deus, responderam todos.
- Como ele fez isso?
- Esse forasteiro disse que a imagem de Deus adorada por nós não significava nada para ele, e que a sua visão de Deus era totalmente diferente.
O sábio mais uma vez meditou e disse:
- Nobre fiel, corra até sua casa e me traga um quadro de algum parente distante seu. E você também, reverendo.
Quando eles voltaram com os quadros, o sábio deu o quadro do reverendo para o fiel e o do fiel para o reverendo, e os interrogou:
- Esses quadros significam algo para vocês?
E os dois foram unânimes ao responder:
- Não!
- Vocês estão ofendidos por isso? - o sábio interrogou novamente.
- É evidente que não, responderam.
- Se nem vocês ficaram ofendidos, como esperam que o nosso bondoso Deus o fique? Cada povo de cidades longínquas tem os seus costumes, crenças e necessidades. O Sol nasce para todos e, mesmo que todos nós soubéssemos pintar, com certeza seria impossível que pintássemos dois quadros exatamente iguais do nascer do Sol.
Proferidas essas palavras, o sábio se foi, e desculpas mútuas foram pedidas entre povo e forasteiro.
Um espaço razoável de tempo se passou, até que novo burburinho na cidade fez o sábio descer mais uma vez, levando seus luminosos raios do saber para a multidão, que tantas vezes se deixava obscurecer por ninharias.
- Isso é guerra! Metade da população gritava.
- Isso é guerra! A outra metade respondia.
- Do que se trata, perguntou gentilmente o sábio.
- Querido sábio, sua figura santa sabe que o trabalho comunitário de plantio é a base de nossa alimentação e sobrevivência. Estamos sendo assolados por forte seca, e corremos o risco de ficar sem alimentos. Por isso muitos de nós optamos por canalizar as águas do rio para irrigar a nossa plantação. Mas os outros acham que se canalizarmos a água, Deus pode nos castigar pela falta de fé que Ele nos mandará as chuvas e pode secar também as águas do rio. Chegamos à conclusão, já que nenhuma das partes quer ceder, que só uma guerra resolverá o nosso problema, para que possamos salvar o nosso plantio e nossas vidas.
O sábio, em tom alto e claro disse:
- Se apenas irrigar plantações com as águas dos rios resolvesse o problema das secas, não haveria desertos no mundo. Por outro lado, só a fé sem o esforço contínuo faz com que a vida se torne estéril como os áridos desertos.
Cidadãos, o plantio da guerra resulta na colheita da morte, mas o plantio da paz enche os reservatórios da alma de vida.
Mais uma vez o sábio se retirou para o alto da montanha e, para seu contentamento, pode respirar a morna brisa da união que subia da pequena cidade apaziguada.
Muito tempo se passou, e o sábio findou sua estadia no alto da montanha, partindo para as longínquas terras astrais, onde foi recebido calorosamente por tantos outros sábios que sempre velaram por sua vida.
A pequena cidade sentiu muito quando ele partiu, e a única coisa que lhes servia de consolo eram as últimas palavras do velho ancião, que lhes disse:
- Não se preocupem, meus amigos. Quando a urgência lhes assomar o coração, façam uma prece sincera, que, com certeza, Deus abrirá um caminho, e farei questão de indicá-lo a vocês.
Muitas urgências aconteceram, muitas preces foram feitas, muitos caminhos foram abertos e, em todas as vezes, o sábio estava lá para indicá-lo, como havia prometido.
Muitas vezes, o caminho certo foi tomado; outras vezes, não.
O tempo ininterruptamente foi passando e, apesar de muitas trilhas incertas e atalhos que acabavam em precipícios, para a alegria do sábio, todos os moradores da pequena cidade conseguiram um dia subir ao alto da montanha, e de lá cada um deles podia olhar para uma pequena cidade; e, de vez em quando, desciam lá alegremente, para levar uma sementinha de luz, colhida numa árvore que só dá bons frutos e lindas flores, e que acolhe todos os seres em seus infinitos galhos, chamada Deus.
- Nota de Wagner Borges: Sumaya é nossa amiga há muitos anos. É a professora de Ioga do IPPB há oito anos. É participante do grupo de estudos e assistência espiritual. É pesquisadora das experiências fora do corpo, dos chacras, e do uso dos cristais para cura e limpeza energética. Para mais informações sobre o seu trabalho, favor ver os seus textos e exercícios na coluna de Ioga da revista on line do site do IPPB – www.ippb.org.br
Obs.: Ela ministra aulas de Ioga no IPPB em diversos horários ao longo da semana. Inclusive, os interessados podem participar de uma primeira aula gratuita, para conhecer “in loco” o seu trabalho.