EL MATADOR

O duelo começara.
EL Matador se movia graciosamente e se desviava do touro com rapidez e
habilidade, levando a multidão ao delírio.
O touro era valente e forte, mas EL Matador com a experiência de anos de arena, driblava o animal com facilidade, enquanto sua capa vermelha
balançava pelo ar.
Ele oferecia a luta ao filho, futuro toureiro que continuaria a tradição que começara com seu bisavô e o fizera conhecido de costa-a-costa da Espanha.
No outro lado da batalha, o touro também cumpria uma tradição. O seu bisavô morrera na arena, assim como seus filhos um dia também estariam ali,
frente-a-frente com um toureiro, cumprindo a sina de todo touro por ali: morrer nas mãos de um matador treinado.

Milhares de pessoas assistiam àquela última luta da temporada e vibravam de alegria a cada lança atingida no touro, e a cada vez que EL Matador se
desviava do animal.

Porém, aquela tarde, algo inesperado ocorreu. Talvez por excesso de confiança ou descuido, EL Matador ao tentar se desviar, perdeu o equilíbrio
e caiu no chão... erro fatal à frente de um touro feroz e ferido.

Seus ajudantes tentaram ajudá-lo, mas também foram atingidos pelo animal que parecia ter enlouquecido. Ele até tentou levantar-se, mas o touro o acertou, jogando-o de encontro ao chão.
A multidão silenciara, enquanto outros toureiros e ajudantes tentavam se aproximar para ajudar, mas durante um breve momento, animal e homem se
olharam profundamente.

O touro assumia o controle da luta; o toureiro, no chão, esperava a morte.

Esse momento pareceu durar uma eternidade. Era como se o duelo agora continuasse pelo olhar. E EL Matador viu nos olhos do animal algo que nunca
percebera antes...

Talvez tenha sido o cansaço ou os ferimentos, mas o touro desistiu de lutar e deitou-se no chão, esperando sua morte nas mãos dos que vieram ajudar EL Matador.

O toureiro continuou parado, traumatizado por ter enxergado através dos olhos do animal a mesma luz que habita em cada ser humano: o brilho da vida.

Ele levantou-se, caminhou até o touro e o cobriu com sua capa e pediu perdão a Deus por nunca ter enxergado.

Naquela tarde, a multidão que assistia à luta nas arquibancadas, e milhares de outros espanhóis que assistiam pela televisão ao duelo, viram algo que nunca ocorrera antes na história da tourada: as lágrimas de um toureiro abatido pelo animal abatido.

Ninguém entendeu, mas no silêncio de seu coração EL Matador chorava mesmo era de agradecimento; não só pela vida que o touro lhe poupara, mas também porque o animal lhe ensinara, pelo olhar, que mais importante e poderoso do que ser um matador era se tornar um campeão da vida.

- Frank - Londres, Fevereiro de 2003.

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