ESPIRITUALIDADE, ARROGÂNCIA E LETRAS
- Por Frank -
Percorri um caminho difícil para chegar até aqui.
Não foi fácil ter acesso aos estudos espiritualistas. Apesar das muitas casas que conheci, poucas eram as que ofereciam, no pacote, informação, discernimento, bom humor e práticas de uso da teoria espiritual no cotidiano real.
Nunca estive preocupado com o céu, pois o que sempre busquei foi uma forma de aliar a espiritualidade com o meu dia-a-dia. Por essa razão, precisava estudar numa casa que me possibilitasse voar, mas que me trouxesse de volta ao chão, pois é com os dois pés na Terra que devemos estar sempre, com estudos ou não.
Percorri um caminho difícil para chegar até aqui.
Não foi fácil ter acesso aos estudos espiritualistas. Apesar das muitas casas que conheci, poucas eram as que ofereciam, no pacote, informação, discernimento, bom humor e práticas de uso da teoria espiritual no cotidiano real.
Nunca estive preocupado com o céu, pois o que sempre busquei foi uma forma de aliar a espiritualidade com o meu dia-a-dia. Por essa razão, precisava estudar numa casa que me possibilitasse voar, mas que me trouxesse de volta ao chão, pois é com os dois pés na Terra que devemos estar sempre, com estudos ou não.
Contudo, mais difícil foi perceber que os anos de espiritualidade, em vez de me deixarem mais flexível, estavam me deixando mais rígido e mais intolerante ao comportamento de quem não conhecia o que eu sabia. E, assim, a arrogância foi se instalando no meu coração e comecei a me sentir como uma espécie de "escolhido", com a missão especial de salvar todos os meus amados, familiares e amigos ignorantes da grande verdade que descobri.
E, para complicar ainda mais a minha cegueira e aumentar o meu ego de super-iniciado espiritual, foi-me dado o dom da escrita e comecei a escrever sobre espiritualidade e outros assuntos relacionados ao mundo espiritual.
Com uma farta satisfação, logo compreendi o poder da palavra escrita. Um texto jogado na internet era uma bola de neve que poderia levar muito esclarecimento para a grande massa. Não vi aí, no começo, um veículo sadio de informação, mas entendi isso como uma ferramenta efetiva de evangelização e, é claro, de salvação das almas de milhares de desconhecidos que não tinham tido acesso aos textos ocultos e às palestras e livros que me ensinaram a ser um grande espiritualista de plantão.
Somos todos evangélicos, no sentido original da palavra, que quer dizer “anjo”, ou mesmo “mensageiro”, aquele que trás a “boa nova”. Se ganhamos, com a evolução, o dom da palavra, é porque deveríamos aprender a usá-la para o nosso bem estar e o dos outros.
Toda pessoa que escreve, ou se utiliza da palavra para veiculação de idéias, precisa ter claramente em sua mente o objetivo da sua preleção e o destino das suas idéias. Se a informação trará esclarecimentos, ou se será apenas um correio da má notícia, é fácil saber com a repercussão da mensagem enviada. Essa repercussão nos dirá se escrevemos como anjos, ou como evangélicos, no sentido pejorativo que a palavra ganhou ao descrever seguidores de alguma religião cristã que tenta convencer os outros de sua verdade, não importando o quão agressivos possam parecer.
É claro que nem todo texto precisa ser poesia, mas, quando escrevemos para um público espiritualista e visamos o esclarecimento, é fundamental entendermos que há pessoas que nos estão lendo que já sabem interpretar as entrelinhas. Porém, há outras (a grande maioria), que podem ser afetadas para o bem da sua caminhada, ou desvirtuadas pelas intenções nebulosas que colocamos por trás das nossas letras.
Lembro do meu grande amigo Luis Medeiros, certa vez, dizendo-me que "só podemos tirar a fé de alguém, se colocarmos coisa melhor no lugar". E foi depois de muita cabeçada e de uma trilha de inimizades deixada em nome da minha verdade, que aprendi a moderar a minha linguagem e a frear meus impulsos de convencer alguém das minhas verdades.
Curioso é o fato de que, quanto mais prática eu faço, mais percebo que o que defendo é relativo ao momento em que vivo. Há exceções, contudo.
Sempre defendi o respeito (mesmo antes do começo da minha caminhada espiritual), e sempre vou defender.
Respeito no sentido de compreender a minha própria ignorância frente ao diferente, ao que não consigo compreender totalmente. Respeito, sim, no sentido de aceitar que eu também tenho os meus preconceitos e, se não consigo calá-los, tento ao menos filtrá-los para que não apareçam em meus textos. Já bastam os escritores de apocalipse que enxameiam em revistas semanais, na internet e em livros best-sellers.
Respeito no sentido de garantir o direito de qualquer pessoa seguir a sua religião ou crença, da forma que for, com o ritual que lhe for mais apropriado, mesmo que envolva símbolos ou substâncias para as quais temos as nossas razões pessoais para ser contra.
Todos temos as nossas linhas de atuação. Alguns constroem, outros desconstroem; alguns escrevem crônicas, outros, poesias; mas, de uma maneira ou de outra, trabalhamos pelo coletivo através de nossos escritos. Daí a importância de usarmos a nossa inteligência a favor da Luz e evitar, ao máximo, cair nas armadilhas da arrogância.
Podemos aprender com todas as linhas. Quem fala mal de uma trilha ou de outra, está praticando qualquer coisa, menos a informação, o respeito e o discernimento. Podemos alertar aos que estão começando agora sobre os perigos da caminhada, mas não podemos afugentá-los com argumentos baseados em certas experiências espirituais que nos foram danosas.
Quando o assunto é espiritualidade, todos nós, que já engatinhamos um pouquinho, sabemos que tudo é muito subjetivo. O que serve para um, não ajuda outro; o que guia uma massa, para outro alguém pode fazer o oposto. Isso vale para qualquer coisa na vida: relacionamentos, vida profissional, e deveria valer ainda mais em relação à escolha que cada um faz com a sua vida espiritual.
Estou ainda aprendendo a escrever. Posso dizer, porém, que recebemos feedbacks proporcionais ao que escrevemos. Há textos que transbordam luz; outros explodem em discernimento. Porém, há coisas que escrevemos que só causam discórdia, motivos para discussões desnecessárias e deixam um rastro de arrogância que não condiz com quem somos de verdade.
Difícil foi o caminho que percorri para chegar até aqui e escrever sobre isso. Espero não pecar por arrogância e, mesmo que muitas pessoas achem que escrevo texto para crianças, eu fico com a leveza, como dizia o Gonzaguinha. Ou melhor, com a pureza da resposta das crianças, pois a vida é muito bonita para eu pregar a intolerância.
São Paulo, 24 de novembro de 2009.
- Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco de Oliveira, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir em São Paulo, em fevereiro de 2005.
Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos.
Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista online de nosso site e em nossa seção de textos periódicos, em meio aos diversos textos já enviados anteriormente. www.ippb.org.br – Outros textos podem ser acessados diretamente em seu blog na Internet: http://cronicasdofrank.blogspot.com
E, para complicar ainda mais a minha cegueira e aumentar o meu ego de super-iniciado espiritual, foi-me dado o dom da escrita e comecei a escrever sobre espiritualidade e outros assuntos relacionados ao mundo espiritual.
Com uma farta satisfação, logo compreendi o poder da palavra escrita. Um texto jogado na internet era uma bola de neve que poderia levar muito esclarecimento para a grande massa. Não vi aí, no começo, um veículo sadio de informação, mas entendi isso como uma ferramenta efetiva de evangelização e, é claro, de salvação das almas de milhares de desconhecidos que não tinham tido acesso aos textos ocultos e às palestras e livros que me ensinaram a ser um grande espiritualista de plantão.
Somos todos evangélicos, no sentido original da palavra, que quer dizer “anjo”, ou mesmo “mensageiro”, aquele que trás a “boa nova”. Se ganhamos, com a evolução, o dom da palavra, é porque deveríamos aprender a usá-la para o nosso bem estar e o dos outros.
Toda pessoa que escreve, ou se utiliza da palavra para veiculação de idéias, precisa ter claramente em sua mente o objetivo da sua preleção e o destino das suas idéias. Se a informação trará esclarecimentos, ou se será apenas um correio da má notícia, é fácil saber com a repercussão da mensagem enviada. Essa repercussão nos dirá se escrevemos como anjos, ou como evangélicos, no sentido pejorativo que a palavra ganhou ao descrever seguidores de alguma religião cristã que tenta convencer os outros de sua verdade, não importando o quão agressivos possam parecer.
É claro que nem todo texto precisa ser poesia, mas, quando escrevemos para um público espiritualista e visamos o esclarecimento, é fundamental entendermos que há pessoas que nos estão lendo que já sabem interpretar as entrelinhas. Porém, há outras (a grande maioria), que podem ser afetadas para o bem da sua caminhada, ou desvirtuadas pelas intenções nebulosas que colocamos por trás das nossas letras.
Lembro do meu grande amigo Luis Medeiros, certa vez, dizendo-me que "só podemos tirar a fé de alguém, se colocarmos coisa melhor no lugar". E foi depois de muita cabeçada e de uma trilha de inimizades deixada em nome da minha verdade, que aprendi a moderar a minha linguagem e a frear meus impulsos de convencer alguém das minhas verdades.
Curioso é o fato de que, quanto mais prática eu faço, mais percebo que o que defendo é relativo ao momento em que vivo. Há exceções, contudo.
Sempre defendi o respeito (mesmo antes do começo da minha caminhada espiritual), e sempre vou defender.
Respeito no sentido de compreender a minha própria ignorância frente ao diferente, ao que não consigo compreender totalmente. Respeito, sim, no sentido de aceitar que eu também tenho os meus preconceitos e, se não consigo calá-los, tento ao menos filtrá-los para que não apareçam em meus textos. Já bastam os escritores de apocalipse que enxameiam em revistas semanais, na internet e em livros best-sellers.
Respeito no sentido de garantir o direito de qualquer pessoa seguir a sua religião ou crença, da forma que for, com o ritual que lhe for mais apropriado, mesmo que envolva símbolos ou substâncias para as quais temos as nossas razões pessoais para ser contra.
Todos temos as nossas linhas de atuação. Alguns constroem, outros desconstroem; alguns escrevem crônicas, outros, poesias; mas, de uma maneira ou de outra, trabalhamos pelo coletivo através de nossos escritos. Daí a importância de usarmos a nossa inteligência a favor da Luz e evitar, ao máximo, cair nas armadilhas da arrogância.
Podemos aprender com todas as linhas. Quem fala mal de uma trilha ou de outra, está praticando qualquer coisa, menos a informação, o respeito e o discernimento. Podemos alertar aos que estão começando agora sobre os perigos da caminhada, mas não podemos afugentá-los com argumentos baseados em certas experiências espirituais que nos foram danosas.
Quando o assunto é espiritualidade, todos nós, que já engatinhamos um pouquinho, sabemos que tudo é muito subjetivo. O que serve para um, não ajuda outro; o que guia uma massa, para outro alguém pode fazer o oposto. Isso vale para qualquer coisa na vida: relacionamentos, vida profissional, e deveria valer ainda mais em relação à escolha que cada um faz com a sua vida espiritual.
Estou ainda aprendendo a escrever. Posso dizer, porém, que recebemos feedbacks proporcionais ao que escrevemos. Há textos que transbordam luz; outros explodem em discernimento. Porém, há coisas que escrevemos que só causam discórdia, motivos para discussões desnecessárias e deixam um rastro de arrogância que não condiz com quem somos de verdade.
Difícil foi o caminho que percorri para chegar até aqui e escrever sobre isso. Espero não pecar por arrogância e, mesmo que muitas pessoas achem que escrevo texto para crianças, eu fico com a leveza, como dizia o Gonzaguinha. Ou melhor, com a pureza da resposta das crianças, pois a vida é muito bonita para eu pregar a intolerância.
São Paulo, 24 de novembro de 2009.
- Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco de Oliveira, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir em São Paulo, em fevereiro de 2005.
Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos.
Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista online de nosso site e em nossa seção de textos periódicos, em meio aos diversos textos já enviados anteriormente. www.ippb.org.br – Outros textos podem ser acessados diretamente em seu blog na Internet: http://cronicasdofrank.blogspot.com