MOMENTO PERFEITO

Hoje à tarde experimentei um desses momentos raros de lucidez, onde a gente sabe que está vivendo num sonho, que a mente insiste em chamar de realidade.

Tudo parecia perfeito.

Minha esposa preenchendo o meu coração de abraços; o pôr-do-sol preenchendo o céu de cor, e a inspiração preenchendo a folha com palavras, que só farão sentido para os leitores que já sentiram essa sensação de mergulhar nesse amor misterioso que une a abelha à flor, o velho à criança, a piada à risada, a caneta ao papel, e que a gente segue tentando descrever, mesmo sabendo que não tem nome que consiga expressar.
Sobre o quê escrevia mesmo? Ah, escrevia sobre esses momentos perfeitos em que a gente sente que tudo está interconectado; onde voamos nas asas de um pássaro e entramos na terra nas patas de uma formiga.

Momentos em que sacamos que essa sensação de que todos nós somos um só vai desaparecer na hora da bolada na cabeça, na fechada no trânsito ou na próxima conta que não espera o fim do mês para chegar; mas que mesmo assim, vale a pena sentir, nem que seja só por um momento.

Momentos que a gente vê o Divino em tudo, até em boca de criança ou no olhar das vaquinhas que seguem pastando como se soubessem de um segredo que só quem olha profundo em seus olhos consegue decifrar.

Momentos que o dinheiro não compra, e a gente tem certeza que está na cara que Deus, a Deusa ou o Criador (ou como queiram chamar o Todo que está em tudo) dessa bagunça perfeita resolveu mostrar a face, e o que se vê é que Ele/Ela esteve lá o tempo todo disfarçado de Natureza.

Que bom seria se isso durasse, mas eu sei que não é assim que funciona. Sei que é muita areia para o meu caminhãozinho consciencial carregar o tempo inteiro, mas, também sei que, ora ou outra, a gente acabará se lembrando desse lugar do qual se sente tanta falta, e nem sabemos como chamar.

Parece que esses momentos perfeitos acontecem só para nos dar água na boca do bolo que já está no forno, esperando por nós, quando despertarmos.

Que bom seria se isso durasse, mas não dura e já está indo embora na próxima estatística criminal que eu vou ler após essa mensagem; na pesquisa eleitoral que lerei em seguida, ou no dólar que continua subindo. Mas o amor que preenche meu coração é paciente e vai saber esperar ate o próximo momento perfeito, para que eu acorde, nem que seja por alguns minutos, e compreenda que a imperfeição de um tapa é totalmente interconectada com a perfeição do sorriso.


Bons sonhos

- Frank -
Londres, 11 Agosto de 2004.

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