SEM CAPA E SEM ESPADA

- Por Frank -



Certo dia, percebi que não estava sozinho. Como eu não me via mais como uma ilha, entendi que, se fizesse um pouquinho, poderia fazer alguma contribuição para esse grande continente humano. Não que o mundo precisasse da minha ajuda (ele sempre esteve muito bem, obrigado), mas não falta trabalho para quem quer dar uma mãozinha.

Aprendi algumas técnicas. Estudei um pouquinho, aqui e acolá, e não tardou para que eu passasse da teoria à pratica.

Assim, vesti minha capa, coloquei uma máscara e saí voando para o alto e avante, em busca dos fracos e oprimidos, sempre com a melhor das intenções. Sabia que tinha o Universo do meu lado, os poderes de Grayskull, a espada com o olho de Thundera e as bolas de fogo do Dragon Ball para me auxiliar nessa heróica jornada e, como um Homem Aranha ou Super-Homem, viciei-me em auxiliar o próximo.
Toda vez que o auxilio era necessário, lá estava o Super-Frank, o Zorro Hindu, pronto para o trabalho.

Mas, o herói foi amadurecendo...

Aprendendo que nem sempre precisaria usar as mãos ou os poderes especiais que tinha à disposição, pois tudo o que precisava eram boas palavras, um pouco de luz e muito amor.

Ainda estou aprendendo a trabalhar, cada vez mais sutilmente, mas, confesso que demorei a perceber que o auxilio maior se faz silenciosamente, sem capa nem espadas.

Depois de certo tempo, mais uma ficha caiu: existem pessoas que querem ajuda, e outras não.

Isso me chocou a princípio, pois costumava acreditar que, se existisse um inferno, ele estaria cheio de anjos por lá, tentando ajudar, e eles tinham a obrigação de ajudar, afinal as pessoas precisavam ser ajudadas, mesmo que não entendessem que precisavam de auxílio.

O pior de ajudar é entender que há casos em que a melhor ajuda é não intervir.

Há realmente um inferno, e nós o carregamos dentro de nós mesmos. Os anjos estão ao nosso redor, mas eles sabem que, em certos casos, boas intenções não são o bastante, pois a ajuda tem que partir de dentro.

Nesses casos, a melhor ajuda vem da Nave Mãe Universal, e é só uma questão de tempo (tempo do Universo, e não tempo do homem) para a vida se encarregar de auxiliar e ensinar.

Contudo, é duro não poder ajudar. Pior ainda, é saber que não há palavras, bolas de luzes, feitiços e mandingas que lhe ajudem a auxiliar as pessoas a enxergarem que existe uma saída, uma luz para a sua escuridão. Normalmente, nos sentimos impotentes e tentamos barganhar com os “Poderes Celestes” um auxílio para fulano ou sicrano e, em silêncio, eles lhe respondem que é hora da não-ação.

O vento explica o silêncio que o homem não consegue escutar. A água explica as mudanças que não tardam a chegar. Mudanças sutis que embora não possam ser perceptíveis aos olhos humanos, acabam sendo captadas pelos olhos da alma.

Basta ter paciência para entender que, no fim, tudo se resolve. Que quem está no escuro e não entende o poder da luz, acabará enxergando-a por conta própria.

Não dá para explicar discernimento para quem é fanático. Nem se consegue explicar a beleza da vida para quem não enxerga sentido na mesma. Mas dá para desejar o melhor para essas pessoas e enviar o nosso carinho para todas elas, na esperança de que um dia elas se abram e voltem a viver plenamente de novo.


São Paulo, 19 de Marco de 2006.

- Nota de Wagner Borges: Frank é o pseudônimo do nosso amigo Francisco, participante do grupo de estudos do IPPB e da lista Voadores. Depois de vários anos morando em Londres, ele voltou a residir em São Paulo, em fevereiro de 2005. Ele escreve textos muito inspirados e nos autorizou a postagem desses escritos. Há diversos textos dele postados em sua coluna da revista on line de nosso site e em nossa seção de textos periódicos, em meio aos diversos textos já enviados anteriormente. www.ippb.org.br

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