ALMAS GÊMEAS - Parte 2

(Artigo originalmente escrito para a revista Espiritismo & Ciência - Edição Especial - Número 8 – Abril de 2006 - Tema: “Almas Gêmeas” – Editora Mythos.)

- por Maísa Intelisano -

Ser gêmeo é apenas ser muito parecido. E ser parecido não quer dizer ser bom um para o outro. Todos podemos ser parecidos em coisas boas ou ruins. Portanto, nossas almas gêmeas podem ser um tormento ou uma bênção para nós. Tudo vai depender de em quê somos parecidos. Mas será que só somos parecidos com quem temos um relacionamento amoroso? Será que é só nesta situação que encontramos as nossas almas gêmeas? Isto não seria extremamente pobre, pequeno, limitado, mesquinho?

Se almas gêmeas são apenas almas que se parecem umas com as outras, parece-me perfeitamente natural que possamos encontrá-las em todas as situações de nossa vida: na família, no trabalho, na escola, no clube, entre os amigos. E também nestas situações, elas tanto podem ser uma bênção, como uma praga em nossa vida.

Sabe aquela melhor amiga? Ou aquele amigo do peito? Aquela pessoa que nunca nos deixa na mão? Pois é, essa é uma alma gêmea. E aquele colega de trabalho com quem nos damos tão bem, com quem é fácil de trabalhar, porque pensamos de maneira parecida e tudo flui bem? É uma alma gêmea também. E aquela pessoa que nem conhecemos muito bem, mas que desenvolve um trabalho parecido com o nosso, que tem ideais semelhantes? Então, é mais uma alma gêmea. E aquela pessoa invejosa, que sempre compra as mesmas coisas que a gente, ou implica com tudo o que fazemos, achando defeito em tudo? É alma gêmea também, pois só quem conhece muito bem os nossos defeitos pode apontá-los com tanta precisão. E nós nem reparamos, de tão preocupados que estamos em encontrar aquela alma gêmea de que tanto se fala no sites românticos, nas revistas femininas, nos textos pseudo-esotéricos da moda.
Almas gêmeas são almas afins. E quanto mais afins forem, mais gêmeas serão, mais parecidas, maior a simpatia entre elas, a sintonia entre o que pensam e sentem, a semelhança de gostos, atitudes, idéias e opiniões. Até aí, é perfeitamente factível, mas isso não quer dizer que tem que ser o homem, ou a mulher da nossa vida, perfeito(a) em tudo, que nunca vai nos desagradar ou decepcionar.

Almas gêmeas, em grande parte das vezes, são apenas espíritos que tiveram experiências encarnatórias muito parecidas e que, portanto, trazem uma bagagem espiritual muito semelhante, estando também num nível vibracional muito próximo. Só isso: sintonia.

Almas gêmeas nem precisam, na verdade, terem-se conhecido em outras vidas. Elas podem se encontrar pela primeira vez nesta vida mesmo e não precisa ser, obrigatoriamente, para viver um relacionamento amoroso. Elas podem se encontrar para concretizar um projeto ou um ideal social ou coletivo, para viver uma grande amizade ou experimentar qualquer outro tipo de relacionamento humano.

E podem também se encontrar para ser o carma negativo uma da outra. Seja como programação anterior à encarnação de ambas, de comum acordo, porque desejam vencer uma etapa complicada de seu aprendizado espiritual; seja por simples sintonia, por afinidade de sentimentos negativos, pensamentos ruins e ideais mesquinhos: elas não se conhecem, não programaram nada juntas, mas se merecem, pela energia e vibração semelhante que emanam e, por isso, se estão razoavelmente próximas uma da outra, atraem-se mutuamente de forma quase irresistível. E o resultado acho que todos já sabemos, não é?

E, repito: não estou falando exclusivamente de relacionamentos amorosos, românticos, sexuais e congêneres! Estou falando de toda a multifacetada gama de relacionamentos humanos: entre parceiros, irmãos, pais e filhos, amigos, sogros e genros ou noras, chefes e subordinados, professores e alunos, vizinhos, colegas, médicos e pacientes, avós e netos, padrastos(madrastas) e enteados, pais e filhos adotivos.

É necessário que compreendamos que, como filhos do mesmo Deus, como seres vindos do mesmo amor universal, criador de todas as coisas, todos somos almas gêmeas uns dos outros, em algum nível, em algum aspecto, em algum ponto. Somos irmãos espirituais, embora não gostemos de reconhecer isso.

É claro e natural que, ao longo de milhares de encarnações, tendo experiências de vida diversas, acabemos por ter maior ou menor afinidade com alguns espíritos, mas isso não quer dizer que existam espíritos especialmente criados só para nós, esperando para nos encontrar em algum momento, e que só quando os encontrarmos é que seremos verdadeiramente felizes e completos.

Sempre encontraremos espíritos afins ao longo de nossas encarnações e isso é que representa a grande felicidade: o fato de sabermos que em nenhum ponto de nossa caminhada evolutiva estaremos solitários, por mais sozinhos que estejamos. Sempre teremos alguém parecido conosco para trocar idéias, gostos, opiniões, projetos, atividades, sorrisos e conversas, ao mesmo tempo em que batalhamos para nos afinizarmos com aqueles que têm pensamentos e sentimentos completamente opostos aos nossos e que representam o nosso verdadeiro aprendizado, o aspecto em que realmente temos que crescer e melhorar, aquilo que viemos acrescentar à nossa bagagem.

"A gente só conhece bem as coisas que cativou. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." - Antoine de Saint-Exupéry -

A grande felicidade não está em encontrar "a" alma gêmea, mas em nos reconhecermos gêmeos de todos e dessa forma agirmos com cada um que encontramos em nossa caminhada espiritual, respeitando e aprendendo com as diferenças, curtindo as semelhanças e, acima de tudo, divertindo-nos sadiamente com tudo, pois a vida é uma grande, sonora e gostosa gargalhada divina.

E, para terminar, permito-me tomar emprestado o belo poema de Maurício Santini, colega colunista do site do IPPB:

EU, MINH’ALMA GÊMEA!

São todas almas gêmeas,
As que nascem do útero da Mãe,
As que imigram da célula do Pai.
As luzes que espargem estrelas no céu,
E as sombras que cobrem a aura do Sol.

São almas gêmeas,
O amor impossível, e o ódio mais que fugaz.
A guerra no seio da terra, e a onda possível da paz.
O mar que bate nas pedras, e as pedras que explodem no ar!

São almas gêmeas,
Aqueles que jogam sua ira nas Torres Gêmeas
Com aqueles que oram em devoção nas cavernas.
Os que invadem casas alheias, e os que respeitam outras idéias.

Exu e Iemanjá,
Lúcifer e Jeová,
O aqui e o acolá.

Samael e o arcanjo Miguel,
A luz solar,
E as nuvens negras esparsas no céu.

O Verso e o Universo.
O Todo que está em Tudo.
A voz e o surdo-mudo.

O gato voraz e o cão feroz.
O terno manso e o eterno algoz.
O mártir e o covarde.
O ar que resfria e a chama que arde.
O prazer e a dor.
O fazer e o bolor.

O Lao Tsé e o Mao Tsé,
Satanael e o doce Jesus,
A escuridão e a Luz.

Que a busca está para dentro de si,
Que tudo está completo em ti.
Que aquele que procura fora,
Está por fora e não se acha dentro!

Que aquele que só está feliz em mãos alheias,
Fica na mão e de mãos vazias, e
Sua alma nunca está cheia!

- Maurício Santini –
São Paulo, 26 de novembro de 2002.

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