Nas Asas da Paz – Uma Viagem Espiritual na Argentina

 
(Relato de uma Experiência Fora do Corpo em Buenos Aires)
 
- por Wagner Borges –
 
(Texto publicado originalmente na Revista Cristã de Espiritismo – Número 41 – ano de 2006 - Editorial Vivência.)
 
Toda época de turbulência suscita exageros das pessoas, e aí surgem distorções, independentemente de qual proposta elas abraçaram. É como em uma guerra mesmo. E aí, o pior do ser humano emerge em meio à violência instalada no meio, seja por ataque ou mesmo autodefesa.
 
Há uns oito anos atrás, estive projetado fora do corpo em Buenos Aires, a bela capital da Argentina. Fui levado por um espírito amparador (1) até um teatro bem antigo, perto da rodoviária da cidade. Era um sábado de manhã.
 
Dentro do teatro, havia uma reunião de dois grupos de espíritos: de um lado, um grupo de militares argentinos desencarnados; do outro, o pessoal que foi torturado e assassinado nos porões da guerra suja argentina. Eles estavam separados por uma barreira energética e haviam sido levados ali para uma tentativa de negociação pela paz, pois desencarnaram e levaram a guerra suja para o Astral do país, e isso acarretava animosidades nos encarnados, por repercussão direta, fomentando novas violências no plano físico.
 
Em cima de um palco, bem no meio e à frente dos dois grupos, estava um professor universitário argentino desencarnado, que era o cara que havia organizado a reunião. Ele falava para o pessoal que não era mais necessário brigar, pois estavam todos desencarnados e poderiam encetar novos rumos em suas vidas, sem o ódio e a violência de outrora. Mas, nenhum dos dois lados ouvia nada. Eles continuavam a gritar palavras pesadas e imprecações variadas, junto com ameaças de novas contendas.
 
Então, fui levado no ar pelo amparador (que era invisível para os outros), até o palco. Pairei alguns centímetros acima do piso e olhei o ambiente, onde todos pararam para observar que raio era aquilo de um cara flutuando no ar na frente deles (2).
 
Finalmente, desci e parei ao lado do tal professor, que parecia me esperar, e ele abriu um sorriso.
 
Observei-o detalhadamente: era um homem branco, alto, de uns 55 anos, barba e cabelos claros, óculos grossos e um olhar profundo. Estava vestido com um terno antigo e passava a atmosfera de ter sido um professor universitário e ligado à Filosofia. Tinha mesmo o jeitão de um pensador. Parecia um intelectual, mas cheio de simpatia e simplicidade.
 
O amparador continuava invisível (3), ao meu lado, um pouco atrás, e me disse telepaticamente: "Você já era esperado aqui. Foi trazido a pedido dos amigos espirituais daqui, para conversar e esclarecer esses irmãos em confusão.
 
 
Só pelo fato de você ter flutuado aqui na frente, já é uma forma de chamar a atenção deles para algo além de seus interesses limitados. Converse com eles e fale daquela paz que não é desse mundo. Fale da realidade além do corpo e que eles podem ser felizes, desde que se desprendam dessas atmosferas infelizes em que estacionaram após o descarte do corpo denso.
 
Nem é preciso, por enquanto, que eles se confraternizem, mas que se desprendam da atmosfera psíquica do país, para que as novas gerações possam arejar a energia e renovar a vida, levando sua nação para rumos mais ditosos.
 
Esclareça-os de que a presença deles faz pesar os climas psíquicos das novas gerações, estacionando espiritualmente os rumos do povo, que já sofre por causa de tantas crises econômicas e políticas.
 
Mais além, em planos mais altos da vida espiritual, eles estão sendo esperados por mentores de luz que os ajudarão na devida ascensão consciencial. Converse e esclareça, como convidado de um país irmão. Aqui nos bastidores, eu estarei inspirando-o e, mais acima, outros irmãos invisíveis jorrarão a luz da assistência espiritual, que jamais vê fronteiras e que ajuda a todos incondicionalmente, sempre ancorada no amor do Grande Arquiteto Do Universo, Pai de todos os homens."
 
Consciente do meu papel ali, aproximei-me do professor, que me abraçou e saudou-me contente. Em seguida, ele disse para todos ali: "Esse aqui é um irmão nosso que veio do Brasil. Ele é neutro em relação às nossas contendas e está aqui, a meu pedido, para falar com vocês sobre algumas coisas. Escutem-no com atenção. Deem uma chance para alguém de fora colocar sua opinião sem partido ou interesse nesse ou naquele grupo. Ele veio dar uma ajuda com seu esclarecimento. Por favor, deixem-no falar com vocês. É um convidado de um país irmão e está aqui cheio de boa vontade."
 
Um senhor, que parecia ser o líder do grupo de militares, olhou-me firmemente e fez um aceno de consentimento, ao qual todos os outros de seu grupo se aquietaram. Ao mesmo tempo, um rapaz vestido de jaqueta preta, que parecia ser o líder do outro grupo, gritou em forma de desafio: "Vamos deixá-lo falar, pessoal. Mas que ele não dê palpites na nossa guerra. Aqui não é a terra dele, e nossos problemas são só nossos. Não queremos nada de conversa inútil por aqui. Pode falar, até porque você não fez nada de mal por aqui, e temos educação para recebermos os visitantes. Vamos ouvir você porque foi o professor que o convidou."
 
Com os dois lados quietos, o professor me olhou e acenou com a cabeça, para eu começar a preleção. Ao lado, o amparador invisível e bem concentrado, como numa atitude de prece e ligado a um poder mais alto no extrafísico.
Falei para eles tudo aquilo que o mentor havia pedido e acrescentei que estava ali na qualidade de projetor extrafísico e que sequer era desencarnado como eles naquele momento. Nesse instante, vi a cara de surpresa de vários deles, dos dois lados.
 
Expliquei-lhes que o meu corpo físico repousava naquela mesma hora numa cama em São Paulo, e que eu estava ali apenas para dar alguns toques, sem querer me meter na vida dos outros nem dar palpites de como se deve levar a vida. Fiz questão de dizer-lhes que eu era um homem comum, igual a eles, e que também enfrentava dificuldades na existência cotidiana, mas sem descambar para as emoções pesadas, que são uma verdadeira barreira que oprime o coração e as virtudes dos homens. Falei das dificuldades do Brasil e do sofrimento do nosso povo e até brinquei de que nossas rivalidades só existiam mesmo no âmbito do futebol, graças a Deus!"
 
Então, calei-me e olhei para o professor. Ele me olhou agradecido e disse-me: "Muito obrigado, meu irmão. Pode ir. Você já fez muito de vir aqui numa contenda que não é sua, nem de seu povo. Não parece, mas suas palavras causaram o impacto desejado neles. Vamos ver, agora, no que dá. Se dermos sorte, tudo melhorará, e eles poderão seguir em frente. Hoje eles não se dão bem, mas dia virá em que eles trabalharão juntos pelo bem do país, se Deus quiser! Vá em paz, meu irmão!"
 
Naturalmente flutuei por cima do palco, com o pessoal olhando. Vi que ambos os grupos ainda se olhavam com ódio, mas, entre eles mesmos, havia uma certa conversação, como se houvesse surgido uma outra vertente para suas aspirações. Penso que alguns quebraram paradigmas desgastados e começaram a pensar em outras coisas. Perdoar aos outros, nem tanto (o que seria pedir muito nas condições em que eles se encontravam), mas, pelo menos, se dar a abertura de pensar no bem do povo e de sua nação. Ou seja, deixar a guerra para trás e pensar nas novas gerações e no progresso. Permitir-se ser feliz depois de tanto tempo de violência.
 
No ar, vi o amparador sutil. Ele me acenou para segui-lo e atravessou o teto do teatro. Fui atrás e me vi numa rua bem movimentada (que lembrava muito uma das ruas do Saara, zona comercial situada no centro do Rio de Janeiro, ou mesmo uma das ruas movimentadas do centro de São Paulo, tipo a Vinte e Cinco de Março, famosa pelo seu comércio pulsante).
 
Passamos por diversas outras ruas, sempre invisíveis para os transeuntes, até que chegamos a uma espécie de mercadão de plantas e flores. O ambiente não estava cheio de gente, mas já se notava uma certa agitação no ar. No entanto, quando eu chegava perto das plantas sentia uma sensação muito boa, como se elas transmitissem uma energia suave. E perto das flores, o lance era mais forte. Poderia jurar que as sentia respirarem, como se trocassem energias com o ambiente. Fiquei encantado de flutuar perto delas.
 
Logo depois, o amparador me disse que estava na hora de voltar para casa, pois, em breve, o meu corpo me chamaria de volta, devido às suas necessidades fisiológicas.
 
Dei uma última olhada no ambiente, satisfeito por estar ali e revigorado com as energias das plantas e das flores, e alcei voo para cima, atravessando o teto do mercadão.
 
Em segundos, como se interpenetrasse uma extensa névoa branca, me senti caindo abruptamente dentro do físico, com aquela costumeira sensação de estar caindo de bem alto e sua natural repercussão, que é um certo solavanco no corpo (4).
 
Abri os olhos imediatamente e me lembrei integralmente da experiência. Olhei para o relógio, e eram exatamente onze horas da manhã de sábado.
 
Levantei-me para as atividades do dia. A partir das 14 horas começaria mais um curso sobre as experiências fora do corpo com uma turma no IPPB.
 
Tomei banho e, por volta do meio-dia, desci para almoçar na padaria perto de casa. Então, lembrei-me das flores. Fui até um mercadão perto e comprei algumas plantas com flores, contente por levar essas amiguinhas da natureza para dentro do apartamento (que é cheio de plantas e tem até uma pequena árvore na sala).
 
Não tinha rango em casa, mas tudo estava florido, e meu coração em paz (5).
 
São Paulo, 20 de junho de 2006.
 
- Notas:
1. Amparador – Entidade extrafísica e positiva que ajuda o projetor nas suas experiências extracorpóreas; mentor extrafísico; mestre extrafísico; companheiro espiritual; protetor astral; auxiliar invisível; guardião astral; guia espiritual.
2. Devido a sua densidade energética ser mais sutil, o corpo extrafísico flutua naturalmente. O ato de voar extrafisicamente é chamado geralmente nos meios projetivos e espiritualistas de “volitação”. Volitar significa voar.
Obs.: Se, por algum motivo, a densidade energética do corpo espiritual aumentar, o projetor terá dificuldades em sua volitação.
3. Devido a sua natureza extrafísica e ao seu corpo espiritual ser mais sutil, o amparador é intangível e invisível na maioria das vezes, até mesmo para o projetor, que se sente guiado sutilmente de planos mais elevados.
4. Eis aqui uma pequena bibliografia especializada para quem quer estudar seriamente as experiências fora do corpo:
* "Aventuras Além do Corpo" - William Buhlman - Editora Ediouro. (Esse é um dos melhores livros sobre a projeção. O autor aborda tecnicamente os planos extrafisicos).
* O Segredo da Alma” – William Buhlman – Editora Pensamento. (Outro excelente livro do projetor e pesquisador americano).
* "Sana Khan - Um Mestre no Além" - Luiz Roberto Mattos – Editora  Universalista. (Esse livro é uma pérola de relatos projetivos).
* "A Projeção do Corpo Astral" - Sylvan J. Muldoon e Hereward Carrington - Editora Pensamento. (Esse livro é um dos grandes clássicos do assunto).
* "Viagens Fora do Corpo" - Robert Allan Monroe - Editora Record; Coleção Nova Era. (Outro grande clássico do assunto).
* "Projeções da Consciência" - Waldo Vieira -  Ed. IIPC. (Ótimo livro de relatos projetivos).
* “Projeciologia” – Waldo Vieira – Ed. IIPC. (Um verdadeiro tratado sobre as saídas do corpo. Sem dúvida o principal trabalho da vida desse grande projetor e pesquisador dos temas projetivos).
* “Ensinamentos Extrafísicos e Projetivos” – Sanat Khum Maat / Wagner Borges – Editora Madras.
* “Viagem Espiritual – Vols. 1, 2 e 3” – Wagner Borges – Editora Universalista.
* "Além do Corpo" - Marco Antônio Coutinho - Editora Mauad. (O autor faz um estudo comparativo da projeção nas várias linhas espiritualistas).
* "Viagem Extrafísica" - Geraldo Medeiros Jr.; Editora Forever. (Um dos melhores livros publicados sobre o assunto aqui no Brasil).
* “Odisséia Astral” – Carol Eby – Editora Pensamento. Bom livro da projetora e pesquisadora americana.
Obs.: Na seção de Bibliografia do site do IPPB há uma extensa lista de livros indicados sobre o tema das projeções da consciência.
Também lembro aos leitores que o meu livro “Viagem Espiritual II” está disponibilizado gratuitamente para leitura dentro do site - www.ippb.org.br
Em tempo: A projeção extrafísica é abordada nas principais obras espíritas. Por isso, quando algum espírita fala que sair do corpo é perigoso, no mínimo é por falta de leitura (ou simplesmente por preguiça consciencial de ter que estudar um assunto diferente da abordagem mediúnica convencional).
Baseado nisso, listei algumas referências básicas da projeção no contexto espírita:
* "O Livro dos Espíritos" - Allan Kardec - Ed. FEB. - Ano da publicação original: 1857; Paris, França - Este livro é a pedra angular do Espiritismo. Perguntas sensatas de Allan Kardec, respostas dos espíritos através de vários médiuns. O capítulo 8 trata das experiências fora do corpo, chamadas ali de "Emancipação da Alma". A projeção é abordada da pergunta 400 a 430. Em nenhuma parte os espíritos falaram que a projeção é perigosa. Muito pelo contrário, afirmam várias vezes que o espírito encarnado sai do corpo naturalmente durante o sono. É só ler esse capítulo e comprovar o que afirmo.
* Nas várias obras do espírito André Luiz, psicografadas por Francisco Cândido Xavier, a projeção é muito abordada, principalmente nos livros "No Mundo Maior", "Nos Domínios da Mediunidade", "Entre o Céu e a Terra" e "Mecanismos da Mediunidade". Em nenhuma delas é dito pelo André Luiz que sair do corpo é perigoso. Pelo contrário, ele fala muito bem da projeção. Inclusive, no livro "No Mundo Maior" ele narra uma reunião dos mentores espirituais com centenas de pessoas projetadas em um dos capítulos iniciais.
* Nas obras clássicas de Leon Denis, Gabriel Dellane e Ernesto Bozzano há várias abordagens sobre a projeção. Em nenhuma delas é dito que sair do corpo é perigoso.
Resumindo: Acho que as pessoas falam muito de projeção, mas estudam bem pouco. Dão palpites por ouvir dizer, mas sabem pouco de sua própria doutrina. Perigosa é a falta de informação na mente e a falta de amor no coração.
Há diversos grupos e pesquisadores trabalhando bem com a projeção da consciência, cada um seguindo seu próprio jeito e abordando o tema da maneira que lhes parece a mais adequada. Alguns são mais técnicos, outros mais universalistas ou espiritualistas, e outros ainda ligados a alguma filosofia em particular. Por isso, sugiro aos leitores que deem uma olhadinha na seção de bibliografia sobre o tema em nosso site. Lá estão listados livros das mais diversas abordagens e aí a pessoa tem a opção de escolher o que lhe parecer mais adequado em seus estudos. Na verdade, o ideal é sempre manter a mente e o coração abertos para tudo o que for positivo e recusar tudo aquilo que for deletério, venha de que fonte vier, pois não há nada perfeito nesse planeta e os seres humanos (eu incluído, obviamente), não dominam nem as mais simples emoções, quanto mais um assunto como a projeção da consciência. Fazer uma síntese inteligente e criativa de todas as informações, filtrando tudo com o crivo do discernimento e do bom senso e buscando sempre o crescimento, não só espiritual, mas principalmente como ser humano bacana. E ainda aumentar o bom humor, pois sem ser feliz, de que adianta estudar algum tema desses?
5. Para enriquecer esses escritos, deixo na sequência dois textos correlacionados com o tema desse aqui. Ambos foram extraídos do meu livro “Falando de Vida Após a Morte” – publicado pela Editora Madras em 2005.
 
 
BRIGADAS
 
Houve um tempo em que caminhei por estradas vermelhas.
Pretendi exaltar sonhos excessivos em minhas ações.
Para mim, cheio de devoção pela explosão, tudo era aventura.
Não imaginava que estava na direção do abismo.
Meu grupo jogava sujo, mas parecíamos heróis modernos.
Em nome de ideais políticos, semeamos morte e confusão.
Era a década de 1970, e tudo pegava fogo mesmo.
Entramos no jogo da violência e nos queimamos horrivelmente.
Tingimos de sangue os nossos sonhos de outrora.
Não notávamos, mas havíamos nos transformado no que mais detestávamos no sistema. Nossa violência nos tornara autoritários e cegos para a liberdade.
Éramos joguetes de forças obscuras em nossos corações. Viramos marionetes da violência, crianças-monstros devoradas pelos seus sonhos cegos.
Nós erramos muito, e o caso do Aldo Moro foi só o nosso erro mais ostensivo.
Ninguém queria aquilo, mas fizemos cegamente.
Hoje, com a distância do olho da História, posso ver perfeitamente que nosso caminho estava minado. Pagamos um preço alto e perdemos muitas pessoas queridas nessa missão inflamada de discórdia.
No momento dos fatos, tudo parecia aventura e heroísmo. Mas, assim como nossos adversários, não passávamos de escravos da violência e parceiros de cegueira.
As ruas ficaram manchadas de sangue, e tornamo-nos arautos de mais agitação.
Crianças perderam pais, e nós perdemos nossa inocência!
Toda uma geração derrapou nas brigadas, mais vermelhas do que nunca, tingidas de sangue e dor. Queríamos mudar a estrutura do negócio, mas só perdemos sonhos e amigos queridos.
Houve muita dor e traição nessa estrada vermelha.
Eu me lembro nitidamente: irmão matou irmão!
Eu participei do jogo escuro desses dias, e meu coração perdeu-se em meio a tanta confusão. Repeti velhos erros e entrei na rota da destruição.
Manchei de sangue os meus sonhos de esperança e desgracei minha vida e a de muitos outros.
Nunca fomos heróis, éramos arautos da agonia, iludidos por forças obscuras que denegriram nossos objetivos. Nós e nossos adversários não éramos grande coisa.
Agora, emergindo do vácuo da dor, só vejo sonhos partidos.
Era uma guerra, e entramos com tudo!
Além dos sonhos, também perdemos nossas vidas e nossa inocência.
É hora de recolher os cacos de nossas vidas e reaprender os passos.
Mais uma vez, o brilho da esperança surgiu em nossos corações.
Ganhamos uma dádiva: podemos sonhar novamente!
Podemos resgatar os laços que se partiram.
Seremos crianças trabalhando pelos objetivos da paz.
Seremos arautos de vida, pois podemos sonhar novamente.
Viveremos no mundo mais uma vez, sem estradas vermelhas, sem sangue no caminho, sem perder os sonhos. Aquele tempo se foi, e fomos curados da loucura.
Seremos crianças em uma nova era, e nossos sonhos florescerão.
Hoje, vejo claramente: não tínhamos inimigos, apenas perdemos nossos sonhos e nos corrompemos. Nós e eles éramos irmãos no meio de uma grande confusão.
No fim, a aventura ficou violenta, e perdemos tudo.
Agora, resgatado daquela nuvem confusa, só vejo uma nova brigada formando-se no horizonte: A BRIGADA DA PAZ!
Por ela, serei criança novamente na construção de um novo mundo.
Repararei os erros de antes, pois sonhos mais brilhantes guiarão meus passos por outros rumos... Isso era tudo o que eu queria: esquecer as estradas vermelhas e voltar a sonhar de verdade.
Agora eu sei: ninguém é meu inimigo! E o mundo não precisa do vermelho de minha violência antiga.
O mundo precisa das brigadas da paz ensinando as crianças a plantar flores.
Os governantes medíocres serão pressionados pelos sorrisos das crianças.
Elas mudarão o mundo!
Eu fui resgatado do vácuo da dor e voltei a sonhar.
Não pretendo ser herói dessa vez, apenas uma criança tentando abrir caminhos de luz na vida.
Retornarei com meus amigos em uma nova frente, sem armas, só com sonhos de paz.
Isso era tudo o que eu queria: sonhar novamente!
 
P.S.:
Muito obrigado aos amigos luminosos que nos devolveram a capacidade de sonhar e de nos redimirmos no mundo.
 
- Anônimo -
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges).
 
OBS.: Estes escritos são o depoimento de um espírito desencarnado que viveu e morreu pelas brigadas vermelhas (1). Eu, Wagner Borges, apenas escrevi os seus pensamentos.
Particularmente, sou apartidário, e para mim, a liberdade de expressão é um dom sagrado. Além do mais, sequer conheço bem essa história das brigadas na Itália, época em que eu era adolescente.
 
- Nota:
1. Brigadas Vermelhas - grupo terrorista italiano que agitou o país na segunda metade dos anos de 1970. Seu ato mais ousado e recriminado foi o sequestro e assassinato do premier Aldo Moro.
 
 
SOLDADOS
 
Era uma guerra.
Seus corpos haviam tombado ensanguentados na lama. Mas, eles brilhavam além dali.
Seus corpos foram danificados por tiros e granadas. Mas, eles ascenderam espiritualmente em corpos de luz (1), sem dramas. Estavam soltos, flutuando na luz, sem guerra.
Porém, logo abaixo deles, presos àquela atmosfera densa e misturados ao cheiro acre de carne morta e de sangue com lama, ficaram muitos soldados sem fé, aferrados à batalha que já não era deles.
Não ascenderam, pois o ódio não deixou. Em suas mentes distorcidas, o inimigo precisava pagar! Recusaram o convite da luz e perseveraram no ódio. Não estavam mais na guerra, mas ela estava neles.
Presos às suas ilusões, demoraram a perceber a verdade. Retardaram por conta própria a luz benfeitora que iria curá-los além...
Muitos deles estacionaram no umbral espiritual (2). Outros, finalmente aceitaram os fatos e ascenderam a outros planos extrafísicos. Alguns permaneceram agarrados aos desafetos encarnados e aos ambientes densos da Terra. Porém, pela contínua ação dos bondosos amparadores espirituais (3), foram conduzidos para estações extrafísicas e tratados pacientemente.
No devido tempo, reencarnaram novamente. Estão na Terra mais uma vez, abençoados pela oportunidade da renovação consciencial em outro meio. Porém, ainda hoje, muitos deles estão com suas emoções presas nas trincheiras e nos corpos retalhados do passado belicoso. Inconscientemente, eles guardam as balas e os estilhaços das granadas em suas psiques (4).
Eles continuam em guerra, mas não sabem disso. Não conseguem descansar, pois algo os tensiona por dentro. Muitas dessas reminiscências inconscientes surgem como doenças psicossomáticas, acicatando-lhes a existência e roubando-lhes a paz íntima.
O passado já foi, a guerra acabou, e eles estão em outra vida. Mas, eles não sabem e, dentro deles, as armas continuam disparando incessantemente.
Sua cura é bem simples: basta desligar-se do passado e seguir o fluxo da vida no presente. Eles poderiam mergulhar dentro de si mesmos e com humildade perdoar silenciosamente seus agressores do passado. Bastaria dizer internamente, com toda honestidade: "Eu os perdoo pela agressão ao meu corpo de ontem. Também peço perdão pelas agressões que eu possa ter cometido com vocês ou seus colegas. A guerra ficou lá atrás. Vamos viver e aprender a arte da paz."
A cura dos soldados é simples e só depende de uma conversa interior. Talvez, até mesmo em outras dimensões extrafísicas, os antigos adversários percebam que a guerra já passou, mas a vida continua...
A batalha real é contra o egoísmo e a falta de lucidez.
Que os soldados esqueçam os antigos inimigos e caminhem resolutamente para frente... EM PAZ!
O perdão cura agressores e agredidos. Liberta a consciência dos grilhões do passado e faz o coração transbordar de luz.
Muitos soldados ainda estão sofrendo nos umbrais extrafísicos. E muitos outros estão encarnados, sofrendo repercussões inconscientemente.
Por intermédio destes escritos, os amparadores convidam os encarnados e desencarnados de todos os lugares para a conversa interior da cura e da paz.
Nada de tiros e bombas, só a luz do Amor curando e abrindo espaço para outras possibilidades de crescimento. O passado foi tragado pelo tempo. No entanto, a consciência está no presente e tem que viver o agora e aprender o que for preciso.
Não há exército inimigo para ser destruído!
Só há a GRANDE LUZ chamando os homens para os caminhos da paz.
Tudo começa com a conversa interior, em que o antigo soldado despe-se da belicosidade e torna-se apenas um ser humano tentando viver em paz.
Aos soldados, da Terra e do Além, PAZ E LUZ! (5)
 
- Os Iniciados (6) -
(Recebido espiritualmente por Wagner Borges).
 
- Notas:
1. Corpo espiritual - Cristianismo - Cor. I, cap. 15, vers. 44.
Sinonímias: Corpo astral - do latim, astrum - estrelado - expressão usada pelo grande iniciado alquimista Paracelso, no séc. 16, na Europa, e por diversos ocultistas e teosofistas posteriormente.
Perispírito - Espiritismo - Allan Kardec, séc. 19, na França.
Corpo de luz – Ocultismo.
Psicossoma - do grego, psique - alma; e soma, corpo. Significa literalmente "corpo da alma" - Expressão usada inicialmente pelo espírito André Luiz nas obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier e por Waldo Vieira, nas décadas de 1950-1960, que atualmente é mais usada pelos estudantes de Projeciologia. 
2. Umbral – Plano astral denso; Geena; Hades; inferno.  
3. Amparador extrafísico – entidade extrafísica e positiva que ajuda o projetor nas suas experiências extracorpóreas; mentor extrafísico; mestre extrafísico; companheiro espiritual; protetor astral; auxiliar invisível; guardião astral; guia espiritual; benfeitor espiritual.
4. Psique (do grego) - alma. 
5. Recebi esse texto no escuro durante um trabalho com o grupo de irradiação energética da salinha de sexta-feira (maneira carinhosa como chamamos a sala do IPPB onde fazemos os trabalhos de irradiação energética silenciosamente para a humanidade. Há cinco grupos, cada um se reúne um dia por semana à noite). Esse texto também reflete um trabalho de assistência extrafísica direcionado para soldados desencarnados de que participei por quatro noites consecutivas junto com os amparadores.
6. Os Iniciados - grupo extrafísico de espíritos orientais que opera nos planos invisíveis do Ocidente, passando as informações espirituais oriundas da sabedoria antiga, adaptadas aos tempos modernos e direcionadas aos estudantes espirituais do presente.
Composto por amparadores hindus, chineses, egípcios, tibetanos, japoneses e alguns gregos, eles têm o compromisso de ventilar os antigos valores espirituais do Oriente nos modernos caminhos do Ocidente, fazendo disso uma síntese universalista. Estão ligados aos espíritos da Fraternidade da Cruz e do Triângulo. Segundo eles, são “iniciados” em fazer o bem, sem olhar a quem.
 

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