CANTO PARA A MENINA DESCONHECIDA
- Por Wagner Borges - Menina, no centro da noite, eu percebi o seu choro. Mas não me preocupei, não. É que vi uma cascata de luz em seus olhos. Cada lágrima vertida dissolvia seu ego em luz. Antigas dores foram embora, nas ondas dos sentimentos. Você se lavou, de coração. O seu céu ficou limpo... Agora, é hora de uma semeadura mais sábia. As lições da vida preparam bem a terra do coração. Muitas vezes, é preciso irrigá-las com as lágrimas. Para que a plantação do amor cresça sadia. Para que tudo floresça. Para que os anjos abençoem a colheita. Para que você escute a canção perdida e reencontre a si mesma. Sabe, igual aos xamãs de outrora, vou cantar para você.
Mesmo que você não saiba disso, o seu coração saberá. De alguma maneira, que só o Grande Espírito sabe, a canção viaja... E ela chega onde deve chegar, pois um vento secreto a carrega... Sim, a brisa do espírito a visitará, talvez durante seu sono. E você voará para fora do seu corpo, até o Grande Coração. Então, lá no céu, você perceberá as coisas de outros jeitos e cores. E reconhecerá as lições que tanto apertaram seu coração. Você agradecerá às lágrimas vertidas e abraçará a sabedoria. Sim, você compreenderá o que está além dos olhos e da mente. E depois, quando voltar ao corpo, despertará melhor. No centro da noite, eu canto para você, em silêncio, só com o coração. Para que os anjos da colheita abençoem sua vida e seus vôos espirituais. Para que você veja as cascatas de luz vertendo de seus olhos. Para que você reencontre sua canção e, assim, a si mesma. Para que tudo melhore, pela graça do Grande Espírito. P.S.: Menina, eu nem sei quem é você. Só percebi o seu choro na calada da noite. Então, o vento do espírito bateu aqui. E me ordenou escrever essas linhas. E tudo isso é por amor, mais do que imagina. Um amor que faz cantar, em silêncio, no meio da noite. Uma canção que só o coração escuta. Um amor que só o Grande Espírito sabe. Um amor que não se explica, só se sente...** (Dedicado a você, menina desconhecida daqui, mas velha conhecida do Grande Espírito, Senhor de todas as vidas). Paz e Luz. São Paulo, 19 de fevereiro de 2008. - Notas: * Enquanto eu escrevia essas linhas, rolava aqui no som o belo CD. “Chronicles” – coletânea das melhores canções de Jon Anderson e Vangelis. Sempre que escuto a música “Beside” (4ª faixa do CD), agradeço ao Grande Espírito, pela chance de ouvir tal maravilha. Obs.: Essa música também faz parte do CD. “The Friends of Mr. Cairo” – original do ano de 1981. ** Enquanto passava essas linhas a limpo, lembrei-me de uma linda prece do Cardeal Newman. Segue-se a mesma na seqüência. CONDUZE-ME, DOCE LUZ - Por Cardeal Newman - Conduze-me, doce luz, Através das trevas que me cercam, Conduze-me sempre mais longe! A noite é como uma tinta negra, Estou longe de tua casa, Conduze-me sempre mais longe! Ampara meus passos, Não peço para ver desde agora Aquilo que devo ver mais adiante. Basta, para mim, um único passo de cada vez. Mas nem sempre fui assim, Nem sempre rezei para que me conduzisses, Cada vez mais longe... Gostava de escolher, eu mesmo, O meu caminho... Mas, agora, conduze-me tu, Sempre mais longe... Fascinavam-me os dias de glória E, apesar do medo, O orgulho dominava minha vida. Não te lembres mais dos anos já escoados... Durante tanto tempo teu poder me abençoou; Certamente ele saberá conduzir-me ainda, Cada vez mais longe... Pelo deserto, pelo pântano, Sobre as rochas abruptas, Pela força das torrentes, Até que a noite tenha ido embora E que venha a manhã sorridente. Que esses rostos de anjo, que amei outrora, E que perdi de vista durante muito tempo, Voltem novamente a brilhar. Conduze-me, doce luz, Conduze-me tu, Sempre mais longe... - Nota: Cardeal John Henry Newman (1801-1890) – padre, filósofo e escritor inglês.