CONVERSANDO SOBRE O EGO

Recebo vários e-mail´s de pessoas questionando sobre o ego.

Alguns acham que o estudo espiritual é uma coisa do ego.

Outros querem uma abordagem moldada a partir do que eles idealizam como modelo de alguma coisa.

Há também aqueles que viajam na maionese mística e outros que pensam que seus estudos teóricos é que são fantásticos.
Isso, sem contar os que acham que suas pesquisas são de ponta e que o trabalho dos outros é de segunda categoria.

Isso só demonstra o que tenho visto na prática de muitos anos de estrada dentro de estudos espirituais: há muita gente discutindo e teorizando sobre muitos temas, mas bem poucos trabalhando mesmo.

Há pessoas bolando esquemas incríveis para explicar temas profundos, mas ficam só na teoria, raramente colocam em prática o que sugerem. Ou seja, são vítimas do ego teórico! Ou melhor, são práticos em fazer teorias que o ego adora. Ou ainda, especulam sobre o ego usando o próprio ego para analisar tal questão.

É por essas e outras que ainda prefiro o ego de uma boa piada. É melhor rir com o ego do que falar disso com ego e ser alguém atrofiado psiquicamente por medo de agir sob o ego.

Como resposta consciente às pessoas que enviam e-mail´s cobrando posturas disso ou daquilo (sempre cobram dos outros, nunca delas mesmas), reproduzo aqui um e-mail que remeti para uma pessoa meses atrás. O texto é bem claro e não deixa dúvidas, a não ser que o ego de alguém esteja tão forte que não permita mais a pessoa o simples ato de raciocinar e ver até que ponto algumas coisas são o espelho dela mesma.

* * *

"Olá! Também já li muito o material do Ramana Maharishi (a quem admiro profundamente), de Sai Baba, Krishnamurti, Osho, Paul Brunton e tantos outros que falaram do ego e de tudo o que você escreveu. Como dizia o Ramana: "Quem sou eu?"

Quanto às capacidades espirituais, antigas ou modernas, elas são apenas humanas. A maneira como lidamos com elas é que caracteriza o ego em questão.

Deixe-me dar um exemplo: tenho um amigo de excelente energia que aplica passes em pessoas doentes e é muito dedicado nessa atividade. Após entrar em um grupo de meditação, disseram-lhe que seu trabalho não passava de ego. Tudo o que ele fazia, segundo o pessoal, era o ego dele em ação. Resultado: ele parou de ajudar os outros. Daí, ele ligou pra mim e perguntou-me o que eu achava dele ter se liberado do ego. A resposta foi óbvia: se tudo é o ego, quem garante que não foi seu ego que levou-o a abandonar uma atividade benéfica a favor dos outros?

Na dúvida, ele voltou a trabalhar suas energias a favor dos outros e está bem contente com isso. Se é ego ou não, pelo menos ele está trabalhando.

Nessa questão, ainda fico com os ensinamentos de Paramahansa Ramakrishna: "Enquanto não conseguir diluir o ego, transforma-o em ego trabalhador!"

Há estudos de Vedanta muito profundos sobre essa questão, desde as pesquisas dos rishis da antiga Índia (muito respeitados por Ramana Maharishi), os conhecimentos iogues de Shankara, Vyasa e Narada, os conhecimentos taoístas de Lao-Tzé e a metafísica avançada dos iniciados egípcios.

Um dos conceitos básicos de Vedanta é o monismo (Tudo é um!), chamado na Índia de advaita. A ilusão de separatividade é fruto de maya, a rainha das ilusões. Estamos imersos em seu jogo de dualidade. Por isso, achamos que estamos separados do Todo. Na verdade, o Todo está em tudo! Mas, nem tudo tem consciência do todo. Somos o atman*, essência de Brahman** no mundo fenomênico. E ao longo da evolução, apenas nos daremos conta disso: o atman é Brahman!

Porém, enquanto vamos evoluindo para isso, podemos ir trabalhando e fazendo algumas coisas interessantes. Se isso é ego ou não, prefiro ainda fazer algo do que ficar na inércia, que também é ego!

A prática da vida não leva em conta teoria, só prática de viver. Isso me lembra um físico que estava dando um aula sobre a relatividade do tempo. Ele dizia, acertadamente, que o tempo não existe, é uma ilusão. Mas, depois de um tempo ele olhou o relógio e disse: o tempo acabou. Terminou a aula. Ou seja, teoricamente estava certo, mas na prática ele levou um tempo. Assim são os questionamentos sobre o ego. Fala-se muito disso, mas quem fala e quem ouve, quem escreve e quem lê, também está sob o influxo do próprio ego. Exceção feita aos grandes mestres que alcançaram uma grande realização (como o Ramana, que nunca aconselhou alguém a ficar na inércia e nem era favorável a conceitos teóricos) e diluiram o ego na prática.

Resumindo: o observador e o observado são Brahman! Até o ego é Brahman! O não-ego é Brahman! Tudo é Brahman!

Quando essa verdade fulgurar em nossas consciências, na prática, aí sim poderemos falar de real dissolução do ego. Por enquanto, é melhor fazermos algo benéfico por aqui mesmo, pois, no mínimo, estaremos incomodando nosso ego com alguma coisa legal.

Paz e luz para você!"

- Wagner Borges -
(Alguém, que igual a você, está tentando crescer e detonar o próprio ego).

* Atman (do sânscrito): "Essência espiritual"; "Espírito"; "Centelha Divina".
** Brahman (do sânscrito): "O Todo"; "O Absoluto"; "O Grande Arquiteto do Universo"; "Deus".

Imprimir Email